O  QUE  EU  RENUNCIO?

por Morris Venden

 

Q

uando estudei as técnicas de salvamento, o instrutor da Cruz Vermelha nos ensinou algumas salvaguardas ao tentarmos salvar uma pessoa que está se afogando. Disse ele: "Se for absolutamente possível, não pule na água imediatamente para salvá-lo. Observe-o com muito cuidado, mas espere até que ele esteja prestes a afundar pela tradicional 'terceira vez'. Quando ele chegar a este ponto, então mergulhe e salve-o, mas não antes disto."

Por que ele nos advertiu a esperar? Se mergulhássemos imediatamente, a vítima estaria se debatendo. Ela se agarraria a nós em um aperto mortal, e ambos poderíamos nos afogar. Mas se esperássemos até que ela parasse de lutar, então poderíamos com segurança salvá-la.

Você sabia que a salvação humana se baseia no mesmo princípio? Devemos chegar à condição na qual estamos prontos a parar de combater as ondas do pecado. Jesus nos vê debatendo-nos no mar da vida. Estamos lutando desesperadamente tentando combater nossos pecados, tentando vencer nossos problemas. Mas o diabo é mais forte e mais hábil do que nós. Não parece que iremos alcançar a vitória. Finalmente, quando desistimos e estamos quase prontos a afundar para sempre, admitimos que não podemos ter sucesso. Olhamos desesperadamente para o Céu em busca de auxílio. Só então Jesus pode vir salvar-nos.

Talvez você esteja perguntando a si mesmo por que Deus não lhe tem dado poder para vencer seus pecados. Talvez você ainda não tenha chegado à condição de perceber sua fraqueza e impotência. Talvez você não tenha aprendido o que significa render-se a Ele.

Muitos de nós percebemos a importância da "entrega", mas deixamos de compreender exatamente o que e como renunciamos. Quão facilmente nossa atenção focaliza os pecados e o comportamento! Habitualmente pensamos que justiça é apenas o "agir correto" e que o caminho para agir corretamente é parar de pecar (procedimento incorreto).

"Bem", dirá alguém, "temos de abandonar todos os nossos pecados e problemas antes que possamos ser justos."

Assim decidimos renunciar estas coisas. Você já tentou isto? Uma vez fiquei animado a viver a vida cristã vitoriosa e prometi a Deus que renunciaria a todos os meus maus hábitos. A fim de realizar isto, fiz uma lista dos sete pecados principais e resolvi trabalhar neles. O primeiro pecado da lista era o meu mau temperamento. No dia seguinte iniciei a tentativa de controlar meu temperamento. Quando eu ficava irritado, contava até 10. Às vezes eu era bem-sucedido em não esbofetear o meu inimigo, mas enquanto contava até 10, meu pescoço estava vermelho e as veias sobressaíam, os olhos estavam inchados, o estômago agitado, e os punhos estavam cerrados. De algum modo, isto não me parecia o viver vitorioso!

Outro expediente que tentei foi orar no momento da tentação. Foi quando descobri algo muito desanimador: geralmente no momento em que eu me conscientizava da tentação, eu estava tão envolvido nela que, ou não sentia vontade de orar, ou não dispunha de tempo suficiente para isto. Era como se eu preenchesse um cheque sem ter dinheiro no banco. Minhas orações por vitória não funcionaram, porque eu não estava familiarizado com a Fonte do poder.

Alguém me contou que o verdadeiro problema estava em meu pensamento. Eu não tinha aprendido a controlar o meu pensamento. E visto que "como o homem imagina em seu coração, assim ele é", eu necessitava trabalhar em meus pensamentos. Você já tentou isto?

"Hoje eu não quero pensar em... puxa! acabo de pensar nisto!"

Talvez eu ficasse muito ocupado em pensar isto durante a metade do dia. Então eu parava e dizia: "Viva! Hoje eu não pensei em... oh, oh! acabo de pensar nisto outra vez!" E os meus sentimentos de triunfo se transformavam em desespero.

Finalmente cheguei ao ponto em que senti que havia vencido meu temperamento; de sorte que mudei-me para o próximo pecado da minha lista. Desta vez fui bem-sucedido. Descobri que poderia me livrar facilmente deste pecado, e tornei-me orgulhoso da minha própria capacidade. Infelizmente, quando comecei a trabalhar no terceiro pecado, descobri para minha grande humilhação e vergonha, que o mau temperamento havia retornado.

Minha disposição de ânimo não ajudou quando recebi um folheto descrevendo "Uma Centena de Pecados dos Quais Laodicéia Deve Arrepender-Se." Era desanimador! Combater o mau combate do pecado é o plano que Deus tem para cada um de nós?

Outra pessoa me disse: "Olhe, você não percebe como é obtida a vida vitoriosa. A vitória vem quando você faz sua parte e Deus faz a dEle. Você tem força de vontade suficiente para fazer uma parte disto. Com sua vontade você escolhe ser bom, então age com sua força de vontade para levar a cabo sua escolha. Faça o melhor que puder, e Deus completará a diferença removendo o mal do seu coração."

Este plano poderia ser denominado de "religião subsídio'', em que Deus subsidia meu fraco poder se eu fizer meus 30%. Mas eu não tinha nem mesmo a força de vontade para fazer tudo isto. Se eu estivesse tentando vencer meu temperamento, eu tinha obrigação de assegurar-me de que não esbofetearia o meu inimigo. Então Deus tiraria o ódio do meu coração. Mas minha espinha dorsal era como espaguete molhado – eu não podia nem mesmo fazer a minha parte para que Deus tirasse o ódio do meu coração. Este programa de "subsídio" me deixou frustrado, apenas indagando quão longe eu estava caindo cada vez.

Quando tentei mais arduamente vencer meus problemas, descobri que esta era uma batalha feroz e desesperada. Se tivesse qualquer tempo de sobra depois de contentar os meus pecados, eu então lia um verso ou proferia uma oração para contentar a Deus, mas geralmente, depois de lutar contra todos os meus problemas, eu não tinha tempo ou energia suficiente para me preocupar.

Descobri que era possível combater tão duramente o diabo a ponto de me tornar mais semelhante a ele. Lembro-me dos meus esforços para dormir à noite. Alguém me disse que se eu não conseguisse dormir, deveria começar relaxando as unhas, depois os dedos dos pés, as mãos e os pés, e assim por diante, até que eu relaxasse tudo, e finalmente eu ficaria tão relaxado, tão descontraído que automaticamente pegaria no sono. Mas ao tentar isto, mais tenso fiquei, e acabei ficando mais desperto do que nunca.

Qual é o problema de um neurótico? Todos têm problemas, mas o maior problema do neurótico é sua eterna preocupação com seus problemas. Ao olhar para eles e concentrar-se neles, eles crescem mais e mais, até que ficam grandes demais para serem dominados. Igualmente, é possível ser um neurótico espiritual.

Ao ficar mais e mais desanimado, comecei a indagar o que realmente significava render-se. De qualquer forma, qual o significado da rendição ou entrega? Esquadrinhei a Bíblia a fim de descobrir exatamente o que Deus requer de nós.

Romanos 9:30 e 31 descreve dois grupos de pessoas: os judeus e os gentios. Os judeus estavam preocupados com sua própria bondade e justiça em guardar a lei por suas próprias forças e deixaram de reconhecer a Jesus quando este andou entre eles. Sua atenção estava fixada em si mesmos. Por outro lado, os gentios eram reconhecidos pecadores que foram capazes de ver a Jesus Cristo como o Filho de Deus e que viveram e curvaram-se humildemente aos Seus pés.

O que fez a diferença? Os judeus estavam combatendo o combate do pecado. Não tinham nem tempo nem energia de sobra para Deus. Os gentios estavam livres para combater o combate da fé. Vê você a diferença?

Não é de admirar que Jesus dissesse: "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento!'' É verdade que todos nós somos pecadores, mas Jesus estava nos lembrando que alguns não percebem sua condição pecaminosa e sua necessidade de um Salvador a fim de habilitá-los a vencer.

Os cristãos geralmente acham que há duas frentes de combate: o mau combate do pecado e o bom combate da fé, e freqüentemente procuramos combater ambos ao mesmo tempo. É isto o que Deus espera de nós?

O apóstolo Paulo nos afirma que "ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim, como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê nAquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça." Romanos 4:4 e 5. Note que o nosso esforço é aquele que é necessário para crer. Isto é verdade tanto para a justificação quanto para a santificação, porque santificação é simplesmente justificação momento a momento.

"Espere!" objeta alguém, "você está descrevendo a graça irresponsável, mas a Bíblia diz que temos de lutar.'' É verdade. Mas como eu combato o diabo? Ele é mais forte do que eu. Este texto sugere que para aquele que não se ocupa do mau combate do pecado, mas permite que Deus combata por ele (o combate da fé), sua fé lhe é atribuída como justiça. A única maneira de resistir ao diabo é entregar a batalha a forças superiores. O bom combate da fé é o esforço para conhecer a Deus e a Jesus Cristo a quem Ele enviou. A Bíblia o chama de combate porque o diabo batalhará em cada passo do caminho para impedir-nos de conhecer a Jesus. Ele sabe que se as pessoas aceitarem inteiramente esta verdade, seu poder será quebrado.

O motivo por que ficamos tão desanimados ao tentarmos viver a vida cristã é que nunca aprendemos a vencer. Freqüentemente conversamos sobre o que devemos fazer, mas as pessoas dizem: "Sim, eu tentei isto, mas não funciona."

Finalmente, o seguidor de Cristo deve deixar de tentar "fazer o que é reto" em sua própria força. Ele desiste da idéia de que pode fazer tudo na vida, exceto ir a Deus, porque a rendição tem a ver primariamente com o eu, não com pecados.

Quando decidi renunciar a meus sete pecados, eu estava realmente muito longe disto. Com efeito, quando eu estava combatendo minhas faltas, fraquezas e problemas, estava fazendo exatamente o oposto da genuína renúncia.

"Bem", dirá alguém, " então que é renúncia? "

Renúncia significa abandonar a idéia de que podemos fazer alguma coisa exceto ir a Cristo e buscar um relacionamento diário com Ele.

Significa abandonar a idéia de que podemos fazer alguma coisa quanto aos nossos pecados, separados de Cristo. o pecado é mais forte do que a força de vontade do homem, quer ele seja forte ou fraco. Combatê-lo nos é inútil. Devemos render-nos a nós mesmos! Isto é o que Jesus queria dizer quando nos convidou: "Vinde a Mim... e Eu vos aliviarei." Ele estava apelando para que renunciemos ao mau combate do pecado e em seu lugar aceitemos o bom combate da fé.

Chegou o dia em que acabou a Segunda Guerra Mundial. As forças do Eixo tinham sido levadas a se render. A que eles renunciaram? Disseram eles: ''Entregamos todos os nossos submarinos?" Não. Disseram: "Entregamos nossos tanques e nossas armas de fogo?" Não. Eles entregaram a si mesmos e sua luta, e isto automaticamente abrangeu os tanques, aeroplanos, submarinos, bombas, armas de fogo e tudo o mais. Nosso problema na Coréia, Vietnã e em outros lugares ao redor do mundo é que temos falado de trégua, cessar-fogo e conferências de cúpula, mas nunca de rendição.

Temos de renunciar à idéia de que podemos alcançar a justiça separados de Jesus! O diabo gosta de levar-nos a operar nossa justiça como um substituto para o conhecimento de Jesus. E é possível que alguns renunciem ao seu mau temperamento como um meio de se esquivarem da entrega de si mesmos a Deus! Isto é um beco sem saída, porque os fortes, que são capazes de fazer o que é direito, se tornam extremamente orgulhosos, ao passo que os fracos, que são apenas capazes de falhar miseravelmente, ficam desanimados.

A justiça tem de ser definida em termos de algo mais do que o procedimento correto! Tenho encontrado apenas uma definição satisfatória para o princípio fundamental de justiça, e esta se acha em uma pessoa. Jeremias 23:6 nos afirma que Cristo é a nossa justiça. A justiça nunca deve estar separada de Jesus Cristo, e é um dom que só podemos receber quando vamos a Ele. Se a buscarmos à parte dEle, nunca a acharemos, porque a justiça vem somente para aqueles que buscam a Jesus.

Costumeiramente pensamos que o pecado, sendo o oposto de justiça, é a "má ação", mas se a justiça é Jesus, então o pecado vem a ser separação dEle. Pecado é ser ou fazer qualquer coisa, não importa quão boa ou má, separado de um relacionamento de fé com Cristo (Rom. 14:23).

Se a ausência de relacionamento com Cristo é a chave do pecado, então tanto os fracos quanto os fortes se qualificam. Somos todos igualmente pecadores, não por causa do que temos feito, mas por causa do que somos. E o conhecimento do que somos é necessário antes de nos rendermos significativamente a Cristo.

Quando eu era um garotinho de menos de um metro e vinte de altura, desejei ter a altura de um metro e oitenta. Comecei a pendurar-me no suporte do varal de roupa a fim de ficar mais alto. Mas quando fui medir-me contra um marco de um metro e oitenta junto à parede, eu ainda estava com apenas um metro e vinte. Se eu tivesse tomado todo o meu tempo para pendurar-me no varal sem tomar tempo para comer, eu jamais teria chegado a um metro e oitenta de altura, mas provavelmente estaria um metro e oitenta debaixo do chão!

Como eu cresço fisicamente? Eu atuo no crescimento? Ou atuo em minha alimentação e descubro que crescerei naturalmente como resultado? Se eu agir no crescimento, nunca o atingirei.

Mas não é isto o que costumeiramente fazemos em nossa experiência cristã? Nós sabemos o que devemos ser, e freqüentemente agimos tentando ser isto. Em vez disto, porém, devemos agir na causa da piedade – o relacionamento. Se os meus pecados são o resultado da separação de Deus, então devo procurar manter a íntima comunhão com Deus e Ele cuidará dos meus pecados.

Nossa parte em continuar a salvação é permanecer nEle. Não somos capazes de salvar-nos a nós mesmos, mas Cristo combate nossas batalhas por nós e nos confere a vitória (S. João 14:4 e 5; I Coríntios 15:57).

A Bíblia está repleta de promessas pelas quais podemos ser vitoriosos (II S. Pedro 1:4).

Efésios 2:8 e 9: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." Salvação e fé são dons.

I Tessalonicenses 5:23 e 24: ''O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará." Fará o quê? Preservá-lo-á irrepreensível.

S. João 16:33: "Mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo." Cristo já alcançou a vitória, e nossa parte é aceitar o Seu dom.

S. Judas 24: "Ora, Aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços, e para vos apresentar com exultação, imaculados." A santificação também é obra de Deus.

II S. Pedro 2:9: "O Senhor sabe livrar da provação os piedosos." Tornamo-nos piedosos mantendo-nos em contato com Aquele que é piedoso!

Promessas, promessas. A Bíblia está cheia de promessas, assegurando-nos de que Deus batalhará nossas batalhas e vencerá por nós. Mas nossos atos freqüentemente dizem que Ele não é grande o suficiente para cumprir Suas promessas. Tenho de fazer algo por mim mesmo. Tenho de contar até 10. Tenho de controlar os meus pensamentos. E invariavelmente minha atenção está centralizada no próprio eu.

Não devemos olhar para nós mesmos, porque quanto mais nos demoramos em nossas próprias imperfeições, menos força teremos para vencê-las. Cada um terá uma luta íntima para vencer o pecado a seu modo. Esta é às vezes uma obra muito penosa e desanimadora, porque ao vermos as deformidades do nosso caráter continuaremos olhando para elas ao invés de olharmos para Jesus e nos revestirmos das vestes da Sua justiça. Todos os que adentrarem os portais de pérola da Cidade de Deus entrarão como conquistadores, e sua maior conquista terá sido a conquista do próprio eu.

Portanto, qual é a solução? Hoje eu o estou convidando, meu amigo, a romper com a vida centralizada no eu e no pecado. Eu o estou convidando a desviar o olhar dos seus problemas e, ao invés disto, olhar para seu Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Não lhe parece isto boas novas?

"Bem", dirá alguém, "então como venço os meus problemas?''

Aceite o fato de que você não pode fazer nada separado de Cristo (S. João 15:5). Este texto não afirma que você pode fazer 90% ou 30% separado dEle, porque está falando a respeito da natureza íntima do homem, onde todos somos igualmente impotentes. Não podemos fazer nada sem Cristo.

Por outro lado, posso fazer tudo por intermédio de Cristo (Filip. 4:13), e se isto é verdade, então a única coisa a fazer é entrar em contato com Ele e permanecer em contato com Ele. E o diabo fará tudo o que estiver ao seu alcance para me manter afastado de Cristo.

Se eu quero vencer o meu temperamento, não devo tentar ocupar-me do meu temperamento. Nem mesmo devo orar excessivamente sobre isto, porque é possível, mesmo em minhas orações, combater o mau combate do pecado. "Senhor, ajuda-me hoje a não fazer isto, e isto, e aquilo. " Minha atenção está, portanto, em mim mesmo ou nas coisas!

Ao invés disto, eu focalizo a atenção em meu relacionamento – nEle! – e oro: "Senhor, ajuda-me hoje a perceber Tua presença e poder. Tu o prometeste. E se eu não puder ter-Te em minha vida, estou morto. Não queres entrar e assumir a direção? Assume por hoje o controle da minha vida."

Eu escolho a Cristo e uso minha força de vontade para buscá-Lo, e enquanto eu aprendo a fazer isto, Ele cuida do meu temperamento para mim. A fim de me livrar de qualquer problema, tenho de entrar em contato com o Único que tem o poder! Mas freqüentemente não permitimos que Cristo entre até que ficamos cansados e alquebrados de tanto batalhar contra as forças do mal.

Uma vez, quando eu estava pastoreando em Sacramento, o telefone tocou às duas horas da madrugada. desci aos tropeções o corredor, e ouvi uma voz de mulher do outro lado da linha:

– Senhor, pode ajudar-me? Preciso de ajuda.

– Que tipo de ajuda a senhora precisa a esta hora da noite? – perguntei-lhe.

– Eu preciso de Deus – respondeu ela. O senhor conhece a Deus?

Ora, como você responderia a isto? Desde então tenho pensado a respeito de todas as respostas inadequadas que eu poderia ter dado. Eu poderia lhe ter dito que eu era um pregador, que meu pai, tio e irmão também eram pregadores, que eu tinha condecorações para provar que eu estudava fielmente a lição da minha classe de Bíblia e que eu havia fielmente alcançado todo ano o meu alvo missionário. Mas estas teriam sido respostas adequadas? Não, ela queria conhecer a Deus!

Eu estivera desenvolvendo em meu próprio pensamento o conceito acerca da promessa de Deus de lutar por nós se tão-somente o buscássemos, mas estava indagando se isto realmente era tão simples. E então Deus me deu Alice, essa mulher, como um teste.

Alice era uma alcoólatra da alta classe. Inteligente e educada, ela morava em um asseado apartamento. Mas o álcool havia tirado o melhor dela. Seu caso parecia desesperado. Tinha tentado todas as coisas possíveis, mas finalmente estava prestes a tomar soporíferos para pôr fim à sua vida. Havia ingerido a metade deles quando foi tomada de pânico e chamou o mais próximo pregador que pôde encontrar na lista telefônica, que por acaso era eu. Nunca me havia encontrado antes com ela, mas ela foi diretamente ao âmago do problema. Disse ela:

– Preciso conhecer a Deus. Pode ajudar-me?

Ela havia finalmente chegado ao ponto de se render, porque abandonara a idéia de que poderia fazer alguma coisa exceto ir a Deus exatamente como se achava. Não conhecia nada sobre Ele, mas agora sentiu necessidade dEle.

E assim ela me perguntou:

– O senhor conhece a Deus?

Depois de uma longa pausa, respondi-lhe:

– Creio que O conheço, e gostaria de conhecê-Lo melhor. Também gostaria de ajudá-la a encontrá-Lo.

Ela pediu licença e largou o telefone para se livrar das pílulas que havia tomado. Depois de atirá-las no cano de esgoto, ela retornou e por três horas conversamos sobre conhecer a Deus. Conversei com ela apenas sobre o amor de Deus e o poder de Jesus Cristo, e ensinei-lhe como, sendo ela uma pobre e desamparada alcoólatra, poderia familiarizar-se com Ele. Assegurei-lhe de que Ele a aceitaria exatamente como estava e que transformaria sua vida.

No dia seguinte conversamos por mais cinco horas sobre este único assunto – a necessidade de conhecer a Deus como um Amigo pessoal. Finalmente, passadas aquelas oito horas, ela fez uma oração pessoal, pedindo a Deus que a aceitasse como estava e expressando o desejo de conhecê-Lo melhor.

Ora, segundo o procedimento costumeiro, a medida sábia que eu deveria tomar seria remover todo o álcool do seu armário. E eu teria ido para casa naquela noite com uma bolsa cheia de garrafas. Em vez disto, resolvi permitir que Deus cuidasse disso. Eu tinha visto tantas pessoas atirar fora seus cigarros, apenas para ir ao armazém logo depois e comprar um novo maço. Portanto, deixei as garrafas onde elas estavam.

Pouco a pouco, ensinei-lhe a manter sua própria conexão diária e pessoal com Cristo. Enquanto a estávamos ensinando dia após dia a conhecer a Deus, ela escorregou uma vez e sentiu-se terrível – não por causa da sua incapacidade de vencer o álcool, mas porque havia desapontado a Deus. E enquanto ela continuava buscando a Deus, Seu poder foi compreendido de um modo maravilhoso. Por causa da sua absoluta entrega, seu desejo de beber a deixou completamente.

Por que foi isto possível? Porque ela havia admitido o seu pecado e renunciado a si mesma, e Deus pôde ajudá-la quando ela chegou a este ponto.

Talvez o nosso problema não seja tão notável como o de Alice, mas o princípio permanece o mesmo. Não podemos por nós mesmos fazer nada à parte de Cristo. Todavia, muitas vezes atrapalhamos Seu poder de ajudar, colocando-nos no meio do caminho.

Veja, há duas maneiras de lutar contra Deus. Existe a maneira ateísta, em que a pessoa diz: "Eu sou contra Deus. De fato, nem mesmo tenho certeza de que Ele existe; estou combatendo a idéia de que Ele Se preocupa conosco e está ativo em nosso mundo."

A maneira mais sutil é envolver-se em Sua obra, Seu negócio, tentando você mesmo fazer o Seu trabalho.

É como lutar contra o mecânico de automóveis. Eu posso combatê-lo apregoando que não creio em mecânicos, recusando levar meu carro para ele.

Uma maneira mais sutil é levar o meu carro para a oficina de automóveis. O mecânico abre o capo, mas ao fazer ele isto, eu enfio a cabeça do outro lado e digo: "Ora, tenha cuidado. Este é um motor muito delicado."

E ao começar ele a trabalhar, eu digo: ''Não, não toque na correia do ventilador. Acabo de colocar uma nova. E fique distante destas novas velas de ignição. Afaste suas mãozinhas encardidas do carburador, porque ele também é muito delicado."

Posso continuar importunando o pobre mecânico até que ele atira ao chão suas ferramentas, levanta as mãos, e diz: "Tudo bem. Desisto. Leve seu carro e conserte-o você mesmo."

Deus somente pode livrar-nos se assumir o comando das nossas batalhas por nós. E não podemos receber Sua ajuda a menos que reconheçamos que somos impotentes para fazer qualquer coisa em nossa própria força. Diz Paulo: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive." O que ele está dizendo? Ele está afirmando que a sua força se aperfeiçoa na fraqueza e na morte, porque quando ele está fraco, então ele é forte em Cristo (II Coríntios 12:9 e 10).

Toda a essência da mensagem de Cristo era a submissão, e os obstinados fariseus não gostaram da Sua mensagem. Eles disseram: "Não queremos este homem vivo", porque Ele derrubou seus castelos de areia e abalou sua falsa segurança. Mas os fracos se aglomeravam em torno dEle, porque amavam estar em Sua poderosa presença.

O desafio do evangelho que se nos depara hoje é que enfrentemos o enigma de que devemos tornar-nos fracos, não importa quão fortes sejamos. Deus está esperando que nos demos conta de que somos pecadores, não tendo nada a oferecer. Anseia que cada um de nós se aproxime dEle exatamente como está e confesse: "Deus, eu não posso fazer isto. Não tenho sido capaz de realizar nada senão isto. Preciso de Ti. Sempre fui um pecador, e se Tu queres que eu viva uma vida vitoriosa, tens de fazer tudo isto por mim."

Só então pode o Senhor intervir e salvar-nos. Se você jamais percebeu o poder de Deus em sua vida, é muito provável que você nunca tenha percebido completamente a sua impotência.

Qual é a resposta – a maneira em que deixamos o mau combate do pecado e assumimos o bom combate da fé? É a vida devocional particular do indivíduo. Passar tempo a sós cada dia em comunhão individual e pessoal com Deus é o meio de que dispomos para viver em contato com Ele. Se não passa esse tempo com Ele, não importa quão bom você possa ser, você é destituído de poder. E Cristo não pode ser o centro da sua vida a menos que você se mantenha em contato com Ele cada dia.

Uma vez propus um questionário anônimo, de uma só pergunta, a alunos da escola secundária: "Quando você chegar ao Céu, qual a primeira coisa que fará?" Ao ler até o fim as várias respostas, elas caíam estranhamente em uma categoria idêntica: "Quando eu chegar ao Céu, eu gostaria de ver quem mais está lá"; "eu gostaria de ver quem não chegou lá''; "eu ficaria tão surpreso que não sei o que faria"; eu gostaria de cavalgar um leão"; "eu gostaria de ver minha casa"; "eu gostaria de começar fazendo perguntas". E assim por diante.

Meu coração estava desfalecendo, até que me deparei com uma que eu estava esperando ver: "Quando eu chegar ao Céu, a primeira coisa que eu quero fazer é lançar-me aos pés de Jesus e agradecer-Lhe por me tornar possível estar lá."

Se Jesus Cristo não é hoje o centro da sua vida, Ele não será o centro da sua vida se você chegar ao Céu.

Fui à minha igreja e fiz um levantamento anônimo de várias centenas de membros, para ver se eles estavam despendendo algum tempo em buscar a Jesus. Descobri que apenas um em quatro estava fazendo isto, e isto significava que 75% da minha congregação estavam procurando ser bons o suficiente para se salvarem – vivendo uma vida moral – separados de Deus.

Meu apelo a você é que busque esta familiaridade pessoal com Jesus Cristo. Estou lhe falando, meu amigo, especialmente se você é um caso impossível, se você tentou tudo e está agora desapontado. Por favor, há algo disponível que você ainda não compreendeu. Freqüentemente, alguém desiste da religião e se torna um pecador inveterado, sem saber que estava perto da genuína entrega, porque Deus toma as pessoas que desistem de si mesmas. Quando você está em situação angustiosa, então você está mais perto de Deus, e tudo o que precisa fazer é combater o bom combate da fé, buscando a Jesus.

O princípio e a premissa do grande tema da justiça pela fé é que quando Cristo entra na vida, o pecado é excluído por Ele. Não é eliminado por nós.

Este grande conceito foi descrito humoristicamente por Robert Service, o poeta laureado do Alasca. Ele conta a história de um pregador que foi para o Alasca como missionário. Uma noite ele se perdeu em uma nevasca e quase morreu. Seu salvador foi Bill, um indivíduo degenerado que fumava 40 cigarros por dia. Bill arrastou o missionário para sua cabana, que ficava a vários quilômetros de distância. O temporal foi tão severo que eles ficaram bloqueados pela neve durante dias, tentando se aquecer.

Dias e noites se passaram. Eles estavam enfadados. O pregador encontrou conforto na leitura da sua Bíblia, mas a única coisa que Bill pôde fazer foi fumar. Um dia acabaram-se as páginas de uma revista que ele havia usado para enrolar seus cigarros. Ao ver o pregador lendo a Bíblia, ele teve uma brilhante idéia. Disse ele:

– Por favor, dê-me algumas páginas da sua Bíblia para que eu possa enrolar mais alguns cigarros. Vou perder o juízo. Estou desesperado.

O pregador ficou horrorizado.

– Nunca!

– Mas eu lhe salvei a vida!

– Nunca!

Bill ameaçou e rogou, mas o pregador recusou ceder. Outro dia se passou, e no meio da noite o pregador foi despertado por Bill, que em final desespero tinha preparado uma taça de estricnina mortífera e estava pronto para bebê-la.

– Estou liquidado. Adeus!...

Disse o pregador:

– Espere – o pregador exclamou. – Tenho uma idéia. Eu lhe darei as páginas da minha Bíblia se você prometer que vai ler cada página antes de fumá-la.

Segundo este poema, Bill fumou de Gênesis até Jó, mas então algo especial aconteceu. Ele leu mais e mais, porém fumou cada vez menos. Finalmente admitiu:

– Acho que já fumei o suficiente. Seu papel produz uma fumaça muito fétida.

Qual era novamente o princípio básico? Se você tiver problemas, busque a Cristo ao invés de concentrar-se em seus problemas. Eu não combato o mau combate do pecado; renuncio a isto e em seu lugar busco a Jesus. Deus prometeu combater por nós; Ele já alcançou a vitória, e ela é nossa como um dom se o aceitarmos. Nossa luta é buscá-Lo!

O que renuncio quando me rendo a Ele? Eu renuncio a mim mesmo e à minha independência. Não é de admirar que a batalha contra o eu seja chamada de a maior batalha que já foi travada! Não quer se unir a mim em procurar conhecer a Deus cada dia?

 

Assim como a crianças trazem seus brinquedos quebrados

Com lágrimas para que consertemos,

Levei meus sonhos despedaçados para Deus

Porque Ele era meu Amigo.

 

Mas então, em vez de deixá-Lo

Em paz, a trabalhar sozinho,

Fiquei por perto procurando ajudar

Por maneiras que me eram próprias.

 

Finalmente eu os tomei de volta e exclamei:

"Como podes ser tão vagaroso?"

''Meu filho'', disse Ele, ''o que podia Eu fazer?

Tu nunca os soltaste.''

 

Querido Pai celestial: Tu és forte; nós somos fracos, embora não tenhamos percebido isto. Sabemos que não há nenhuma esperança fora de Ti. Perdoa-nos por pensar que tínhamos o poder e por depender de nós mesmos. Por favor ensina todos nós a combater o bom combate da fé permitindo que assumas por nós o comando das nossas batalhas. E por favor ajuda-nos a conhecer-Te como nosso Amigo – de uma maneira mais e mais profunda, não somente amanhã, mas cada dia até que Jesus venha. Nós pedimos em Seu nome, Amém.

 

 

 

Extraído do livro: Como tornar real o cristianismo.