O  VERDADEIRO  E  O  FALSO  ARREPENDIMENTO

por Morris Venden

 

A

lguma vez você já recebeu ordem de dizer a alguém que estava arrependido, sendo que na realidade não estava? O ter alguém lhe mandado dizer que estava arrependido o levou ao arrependimento? Não, o que provavelmente o deixou triste foi ter de dizer que estava arrependido!

Às vezes cremos que o arrependimento ou tristeza pelo pecado e afastamento do mesmo é uma obra que ocorre somente no início da vida cristã. Precisamos desviar-nos do pecado apenas no princípio, ou esta é uma experiência contínua na vida do cristão?

A tentativa de compreender o arrependimento pode ser uma atividade muito indefinida. Você pergunta a alguém:

– Como eu me afasto dos meus pecados?

– Arrependa-se – responde ele.

– O que significa isto?

– Significa tristeza pelo pecado.

– Isso é tudo?

– Bem, significa também o afastamento do pecado.

– Sim, mas como faço isto?

– Você se desvia do pecado pelo arrependimento!

E assim poderíamos continuar este frustrante diálogo com quase todas as pessoas com quem entramos em contato. Eu já o tentei. A conclusão é que o caminho para o arrependimento é desviar-se do pecado, e o caminho para desviar-se do pecado é o arrependimento. Isto não é muito proveitoso para o pecador que luta!

A verdade é que a Bíblia fala de duas espécies de arrependimento. II Coríntios 7:10: "Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte." A tristeza segundo Deus o torna triste o suficiente para renunciar, mas a tristeza mundana não vale um centavo, porque somente o deixa triste se você for apanhado.

Uma vez Esaú buscou cuidadosamente o arrependimento, com lágrimas, mas não achou nenhum lugar para a verdadeira tristeza, apesar das lágrimas. Judas sentiu suficiente remorso e temor do juízo para se matar, mas não teve genuíno arrependimento. Assim o forte exercício dos sentimentos de uma pessoa pode não indicar que ela esteja arrependida. De fato, pode ser uma das contrafações do diabo.

Então, o que causa o verdadeiro arrependimento? Qual é a espécie de genuíno arrependimento ou tristeza que transforma nossa vida? Suponho que todos nós tenhamos tido algumas experiências em nossa vida que demonstraram a verdadeira espécie.

Em um dia quente de primavera eu me achava em Filadélfia, Pensilvânia. Eu estava na terceira série. Muito empoeirados e suados, nós, meninos, ao final do recreio fomos ao banheiro masculino para lavar-nos, esquecendo-nos de que uma classe mais adiantada ainda estava em aula. Não percebemos todo o barulho que estávamos fazendo até que a professora daquela sala irrompeu no banheiro dos meninos e exclamou: "Afinal, o que há com vocês? Vocês parecem uma manada de animais selvagens!"

Bem, eu achei que ela não devia ter-se intrometido no banheiro dos meninos e não gostei da maneira como se dirigiu a nós, de sorte que retruquei com irritação: "Está certo; isto é o que somos." Achando que eu havia sido malcriado, ela contou à minha professara, a qual me falou: "Quero que você vá e diga à Srta. K que está arrependido."

Mas eu não estava arrependido. Ora, como se torna você arrependido quando não está? A ordem da minha professora de contar à Srta. K que eu estava arrependido certamente não me levava ao arrependimento! De sorte que não fui.

No dia seguinte, quando cheguei à escola, minha professora veio ao meu encontro.

– Você contou à Srta. K que estava arrependido?

Agora eu estava em dificuldade. E a única coisa a fazer naquela situação era acrescentar a mentira ao insulto, e assim respondi-lhe:

– Sim, contei.

Mas ela tinha a prova da minha culpabilidade.

– Acabo de conferir com a Srta. K, e ela disse que você não falou com ela.

Agora eu estava em pior dificuldade, e a única coisa em que pude pensar foi uma resposta muito fraca.

– Sim, falei... mas ela não deve ter-me ouvido!

Minha professora encerrou ali o assunto e não disse mais nada sobre isto. O tempo passou e nos mudamos dali. O incidente foi esquecido até ao ano em que comecei a ler a Bíblia. Quanto mais eu lia, mais certas coisas – inclusive a mentira que eu contei à minha professora – começaram a voltar à minha consciência. Já aconteceu isto a você?

E assim um dia tive de assentar-me e escrever-lhe uma carta sobre isto, pedindo-lhe que me perdoasse. Por alguma razão, eu estava arrependido de ter-lhe contado a mentira.

O que leva uma pessoa ao arrependimento? Isto não me era muito claro até esta ocasião específica enquanto lia a Bíblia, mas desde então tenho refletido muitas vezes sobre isto.

Continuando a ler a Bíblia, descobri que o arrependimento, ou estar triste suficiente para mudar, não é algo que podemos fazer por nós mesmos. Não podemos fabricar a tristeza piedosa, a tristeza segundo Deus. Não importa quão arduamente venhamos a tentar, o poder não está em nós! Então, onde obtemos o arrependimento? A fonte da tristeza piedosa está sugerida em Atos 5:31: "Deus, porém, com a Sua destra, O exaltou [Jesus] a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados."

O perdão é um dom! O arrependimento é um dom, uma dádiva. Cristo me dá a capacidade de sentir tristeza. O arrependimento não é menos um dom de Deus do que o perdão e a justificação, e não pode ser experimentado a não ser que seja dado à alma por Cristo.

É interessante notar que no livro Caminho a Cristo há três importantes lugares onde diz: "Exatamente aqui está o ponto em que muitos erram", ou "milhares se extraviam". O primeiro declara:

"...aqui está o ponto em que muitos erram, sendo por isso privados de receber o auxílio que Cristo lhes desejava conceder. Pensam que não podem chegar a Cristo sem primeiro arrepender-se. ... Mas terá o pecador de esperar até que se tenha arrependido, antes de poder chegar-se a Jesus? Deve fazer-se do arrependimento um obstáculo entre o pecador e o Salvador?" – Pág. 26.

Milhares de pessoas invertem isso. Pensam que têm de arrepender-se a fim de irem a Cristo, a fim de que Cristo as aceite, mas esta passagem diz que temos de ir a fim de receber o arrependimento!

Então o que temos de fazer?

"A Bíblia não ensina que o pecador tenha de arrepender-se antes de poder acudir ao convite de Cristo: 'Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, Eu vos aliviarei'... Assim como não podemos alcançar perdão sem Cristo, também não podemos arrepender-nos sem que o Espírito de Cristo nos desperte a consciência." – Pág. 26.

Diz-nos este mesmo capítulo:

"Quando virdes vossa pecaminosidade, não espereis até que vos tenhais melhorado. Quantos há que julgam não ser suficientemente bons para ir a Cristo! Tendes esperança de tornar-vos melhor mediante vossos próprios esforços?. . . Só em Deus é que há socorro para nós. ... De nós mesmos nada podemos fazer. Temos de ir a Cristo exatamente como nos achamos." – Pág. 31.

Então tudo bem, o que faz você a fim de se arrepender? Você não perde tempo e vai logo a Cristo. Isto é verdade no início da nossa vida cristã e também é uma necessidade contínua na experiência cristã.

Se eu sou cristão há muito tempo, mas ainda falho continuamente em alguma área behaviorista (do comportamento) da minha vida cristã, do que necessito? Preciso de arrependimento. Como obtê-lo? Esperando duas semanas até que Deus Se acalme depois da minha falha antes de ir a Ele? Não! Vou a Cristo imediatamente, por que Ele é o Único que me pode dar a capacidade de tornar-me triste o suficiente para mudar.

O arrependimento é uma contínua transformação. Realmente, a cada passo adiante em nossa experiência cristã nosso arrependimento se aprofundará. Arrependimento é o desviar-se continuamente do próprio eu para Cristo, e precisamos volver-nos diariamente para Ele.

Esta não é uma experiência única. Preciso arrepender-me hoje, amanhã e no dia seguinte, e Deus prometeu conceder-me isto.

Esta promessa se aplica exclusivamente a alguns que são eleitos, ou escolhidos? O Senhor não quer que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento (II S. Pedro 3:9). Note o fraseado da declaração "cheguem ao arrependimento". Todos podem chegar. E isto não é nada que eu possa fazer; é algo a que eu devo chegar. Gostaria de afirmar que ir a Cristo e chegar ao arrependimento são uma e a mesma coisa, porque quando eu vou a Cristo, recebo o arrependimento que Ele me dá. Portanto, ao viver a vida cristã, se eu continuar a ir a Cristo, continuarei a arrepender-me, e o resultado será a autêntica e piedosa tristeza pelos pecados e o afastamento deles.

Deus convida todos ao arrependimento. O Salvador está continuamente atraindo os homens ao arrependimento. Eles precisam apenas submeter-se a esta atração, e seu coração será enternecido em penitência. Eu quero este tipo de arrependimento em minha vida. E você?

A fim de percebermos a amorosa aceitação de Deus temos de fazer algum esforço. Que tipo de esforço Deus requer de nós antes de dar-nos o arrependimento? Muitos pensam que temos de ser bons, que temos de fazer algum esforço para melhorar-nos, mas a verdade é que nosso esforço é responder, indo a Ele quando Ele nos chama.

Mas como vamos a Ele? Alguns acham que isto significa ir à frente da igreja ou ir ao pregador. Alguns imaginam que isto significa tomar a resolução de nunca mais tornar a praticar certos atos. A frase "ir a Cristo" é intangível, porque não podemos vê-Lo. Há muitas idéias quanto ao que constitui ir a Cristo, mas a verdade é que ir a Cristo não envolve nada mais, nada menos do que ir à Sua Palavra e à oração.

Se um chamado ao altar leva um grupo de pessoas à frente da igreja, mas deixa-os sem saber o que significa ir a Cristo por si mesmos, de joelhos, individualmente, no dia seguinte e um dia depois daquele, então eles não vão a Cristo por muito tempo. Ir a Cristo não é mais profundo do que nossa própria vida devocional e pessoal com Ele. Vamos a Cristo estudando Sua vida, caráter e ensinos em Sua Palavra, e pela oração.

Uma das primeiras coisas que Ele inspira em nós depois de irmos a Ele é um senso de necessidade, incapacidade e grande indignidade, que resulta em arrependimento. O arrependimento é um dom. Não é alguma coisa que eu faço; antes, é algo que não posso deixar de fazer se eu for a Cristo, porque o conhecimento do plano da salvação levará o pecador ao pé da cruz em arrependimento por seus pecados, que causaram os sofrimentos do querido Filho de Deus. É quando mais plenamente compreendemos o amor de Deus que melhor percebemos a pecaminosidade do pecado.

Arrependimento não é o sentimento de tristeza por termos quebrado uma norma ou uma lei. É quando eu me sinto triste por ter desapontado Aquele que deu a vida por mim. E eu tenho de ir a Ele diariamente e conhecê-Lo pessoalmente, a fim de perceber o que estou fazendo a Ele quando continuo pecando.

Assim tudo na vida cristã finalmente se resume em uma coisa – o relacionamento pessoal com Cristo, que é onde o arrependimento, em última análise, se localiza. Estude com oração a Palavra de Deus. Esta Palavra convence do pecado. É quando mais plenamente compreendemos o amor de Deus que melhor percebemos a pecaminosidade do pecado. O conhecimento do plano da salvação me levará ao pé da cruz em arrependimento, não somente no começo da minha vida, mas também em minha contínua experiência na vida cristã.

Meu pai costumava dizer-me: ''Filho, há muitas pessoas, inclusive personagens bíblicos, que praticaram muitos maus atos. Mas nunca se esqueça disto: a diferença entre os justos e os ímpios é que os justos sabem como se arrepender."

E eu tenho ponderado nisto muitas vezes. Uma das grandes evidências do genuíno arrependimento é encontrada na história de Davi. Lemos sobre isto em seu grande salmo penitencial, o Salmo 51, que nos provê vislumbres quanto à maneira como ele se arrependeu. Note que ele enfrentou o problema precisamente como era, sem álibis ou desculpas. "Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado" (verso 2). Davi percebeu e confessou sua necessidade e incapacidade de fazer qualquer coisa a fim de merecer o perdão ou purificar-se a si mesmo. Ele não estava apenas orando acerca dos seus pecados ou más ações. Estava também orando a respeito da sua separação de Deus, sua condição pecaminosa, ou seu coração mau. Isto era mais do que simplesmente o desejo de perdão para um mau ato; era igualmente um rogo por pureza de coração e vida.

Foi necessário que Davi passasse por algumas amargas experiências a fim de perceber que era capaz de cometer qualquer pecado. Lembro-me de ter conversado com alguém que havia experimentado uma grande mudança para melhor em sua vida, e ele disse:

– Uma das grandes necessidades que eu descobri antes de poder mudar, foi perceber quão desesperado pecador eu era.

– Oh, você estava praticando atos desesperados?

– Não, mas eu tive de chegar ao ponto em que pudesse me dar conta de que era capaz de cometer qualquer pecado.

E evidentemente as experiências de Davi provaram isto. De sorte que agora ele orou não apenas por perdão dos seus pecados; ele orou também por purificação de si mesmo.

Um outro vislumbre da verdadeira espécie de arrependimento é também encontrado no Salmo 51: "Pequei contra Ti, contra Ti somente." Davi estava afirmando que o seu grande pecado era contra Deus. Ele rogou: "Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. ... Cria em mim, ó Deus, um coração puro." Ele não queria apenas o perdão. Estava arrependido o suficiente para renunciar, porque compreendeu que o seu maior pecado era contra Deus, e eis porque ele queria um coração puro e um espírito reto.

Desse modo, neste salmo está a sugestão de que o arrependimento autêntico envolve uma pessoa. A tristeza segundo o mundo envolve apenas tristeza por eu ter sido apanhado quebrando uma série de normas. A tristeza segundo Deus sempre envolve uma pessoa e um coração quebrantado! Estar triste por eu ter partido o coração de alguém envolve olhar nos olhos de Jesus – uma pessoa, uma afetuosa pessoa, cujo coração está pulsando em Seu peito. Eis por que as normas e regulamentos, eis por que os Dez Mandamentos não são suficientes. Esses Dez Mandamentos são inexpressivos até que se avivem numa pessoa. Só então você sente genuíno arrependimento.

Isto aconteceu quando eu estava na sétima série. Meu pai estava realizando algumas reuniões em Saginaw, Michigan. Ali havia uma pequena escola paroquial de oito séries, com 13 alunos em toda a escola. Nossa professora tinha apenas 18 anos de idade, e esta era sua primeira escola. Ela conhecia muito bem sua matéria, mas não sabia como controlar e disciplinar 13 garotos. Tentou seu melhor, mas as coisas escaparam do seu controle, e no meio do ano letivo, o conselho da escola se reuniu para ver se ela deveria ser substituída. Anarquia demais.

Um dia alguns dos alunos estavam conversando sobre ela no pátio de recreio embaixo da janela da sala de aulas. Eu me aproximei do canto do edifício a tempo de ouvi-los dizer que eles não achavam que ela fosse uma professora muito boa e esperavam que haveríamos de ter uma melhor. E é verdade que nem mesmo jovens estão satisfeitos, a menos que saibam quais são as regras – onde começar e onde terminar.

Eles continuaram conversando sem parar, e quando todos concordaram em sua aversão à professora, havia apenas uma coisa a fazer, e era juntar-me a eles. E assim eu disse: "Eu também não gosto dela. Eu não. ..." E logo que terminei o meu discurso, houve um movimento através da janela aberta que eu não pude deixar de perceber. olhei para cima, e lá estava minha professora. Ela estava em pé atrás do piano onde tinha certeza de que não podíamos vê-la. Mas pude vê-la, e jamais me esquecerei da expressão de desespero em seu rosto. Ela não estava olhando para nós. Estava olhando para o chão, e vi suas lágrimas correndo. Subitamente me senti pesaroso. Corri para casa, e não pude dormir muito bem aquela noite. Eu tinha partido o coração de alguém que havia feito o melhor que podia por mim.

No dia seguinte quando cheguei à escola, tive de escrever-lhe um pequeno bilhete pedindo-lhe que me perdoasse. Eu estava realmente arrependido. Por quê? Porque havia transgredido uma norma? Não, porque havia desapontado uma amiga. Lembrei-me de todas as coisas que ela havia feito por nós. Tinha ficado depois das aulas a fim de ajudar a alunos necessitados. Na época do Natal tinha ido à cidade e comprado um presente de real valor para cada um de nós. Tinha lido para nós interessantes histórias todos os dias após o recreio. Havia até mesmo nos ensinado um poema de Whittier, do qual nunca me esqueci até hoje. Realmente, ele descreve o arrependimento:

Ainda se situa a escola à beira do caminho,

Um mendigo esfarrapado se aquece ao sol;

Ao redor ainda crescem as sumagreiras,

E também amoras-pretas.

 

Dentro, vê-se a escrivaninha da mestra,

Profundamente marcada por golpes oficiais;

O soalho arqueado, os assentos batidos,

As iniciais talhadas a canivete.

 

Na parede, os afrescos a carvão desenhados,

A surrada soleira da porta, revelando

Os pés que lentamente se deslocam para a escola,

Saem apressados para brincar!

 

Muitos anos atrás um sol hibernal

Brilhava sobre ela no ocaso;

Iluminava suas vidraças do poente

E o humilde beiral atingido pelas intempéries.

 

Afagava os cachos de cabelos loiros, emaranhados,

E olhos castanhos, cheios de pesar,

De alguém que ainda seus passos demorava

Quando toda a escola estava partindo.

 

Porque perto dela estava o garotinho

Seu favor infantil escolhia:

Seu boné pendia sobre um rosto

Onde orgulho e vergonha se mesclavam.

 

Empurrando com pés inquietos a neve,

Para a direita e a esquerda, ele se demorava –

Enquanto irrequietamente suas pequeninas mãos

Manuseavam seu guarda-pó azul xadrezado.

 

Ele a viu erguer os olhos; ele sentiu

Os suaves afagos da mão macia.

Ele ouviu o tremor de sua voz,

Como se uma falta confessasse.

 

"Sinto muito por ter soletrado a palavra;

Odeio estar acima de ti.

Porque – os olhos castanhos abaixados

Porque, como vês, eu te amo!"

 

Ainda à memória de um homem de cabelos grisalhos

Aquele meigo rosto infantil está mostrando

Querida menina! o relvado sobre seu túmulo

Há quarenta anos vem crescendo!

 

Ele vive para aprender, na dura escola da vida,

Quão poucos que passam acima dele

Lamentam seu triunfo e sua perda,

Como ela – porque eles o amam.

 

Ela estava arrependida por ter soletrado a palavra que ele não conseguiu. Por quê? Porque ela o amava. E a mensagem de amor da nossa professora gradualmente havia começado a obter êxito. Quando me lembrei de tudo o que ela havia feito por nós, seu coração partido por causa da minha ingratidão me quebrantou o coração. Eu não estava triste porque fora apanhado transgredindo uma norma escolar. Era porque eu tinha despedaçado o coração de alguém que me amava. Fiquei contente ao saber que lhe fora permitido terminar o ano. Eu estava alegre por tentar ser diferente por sua causa. Fiquei contente quando outro dia ouvi que ela ainda está lecionando! Não a tenho visto desde aquele ano, mas espero tornar a vê-la.

Quando alguém vira as costas para mim, quando alguém me desaponta, quando alguém fala de mim debaixo da janela da sala de aulas, geralmente não me sinto disposto a receber de volta aquela pessoa com bom acolhimento. Mas Jesus o faz. Ele aceita ladrões, prostitutas e publicanos, convidando-os a irem a Ele a fim de receberem descanso e paz. Quando realmente compreendemos a bondade envolvida em todas as Suas bênçãos, em toda a Sua paciência e longanimidade, isto nos quebranta o coração e nos leva a sentir a verdadeira tristeza e o desejo de mudar. Quem está desejoso de tornar-se verdadeiramente arrependido? O que deve fazer? Deve ir a Jesus, exatamente como está, sem demora.

Ora, as pessoas nos dias de Cristo acalentavam a idéia que tem continuado desde então até hoje. Elas pensavam que "o pecador devia arrepender-se antes de lhe ser oferecido o amor de Deus. A seu parecer, o arrependimento é obra pela qual os homens ganham o favor do Céu. Foi esse pensamento que induziu os fariseus atônitos e irados a exclamarem: 'Este recebe pecadores!' Conforme sua suposição, não devia permitir que pessoa alguma a Ele se achegasse sem se ter arrependido". – Parábolas de Jesus, pág. 189.

Bem, se isto é verdade, então não há nenhuma esperança para qualquer um de nós. Se Ele nunca recebesse pecadores, jamais haveria uma oportunidade para você ou para mim. Mas Ele nos aceita – no início da nossa vida cristã e em todo o seu percurso. E Sua bondade em aceitar-nos quebranta o nosso coração, porque não é humano amar e aceitar pessoas que odeiam a você. Jesus morreu por Seus inimigos e prometeu: "O que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora." S. João 6:37.

A amorosa atitude de aceitação da parte de Deus cria em nós o desejo de mudar nossa vida. Ele sempre aceita qualquer um que vai a Ele, em qualquer tempo, em qualquer lugar, não importa o seu passado. Lembre-se de que o pecado imperdoável não é Deus nos rejeitando; é a nossa rejeição de Deus. E assim vem a palavra a toda alma desalentada, para que crie ânimo.

"... embora tenhas agido impiamente. Não penses que Deus talvez te perdoe as transgressões e te permita ir à Sua presença, Deus deu o primeiro passo. Enquanto estavas em rebelião contra Ele, saiu a procurar-te. ... Envolve em Seus braços de amor a alma ferida e quebrantada, prestes a perecer." – Parábolas de Jesus,  págs. 188 e 189.

Deus não somente aceita aqueles cujas vidas têm sido as mais ofensivas a Ele, mas ''quando se arrependem, comunica-lhes Seu divino Espírito, coloca-os nos mais altos postos de confiança e envia-os ao acampamento dos desleais, para Lhe proclamar a ilimitada misericórdia". – O Desejado de Todas as Nações, pág. 826.

Aprendi isto de meu pai. Evidentemente, segundo as tradições do seu "Velho País", os noruegueses não acreditavam em poupar a vara. Um dia eu entrei sorrindo depois de ser castigado com o jornal. Eu disse à minha mãe: "Isto nem mesmo dói.'' Este foi o meu grande erro, porque ela contou ao ateu pai, e então a mangueira foi tirada da bomba de encher pneus. Recebi unta boa sova, mas não conservei isto contra meu pai.

Posteriormente, ouvi um conselheiro da família descrever por que uma pessoa pode receber disciplina: "Não há limite à disciplina que qualquer um, jovem ou velho, pode receber, contanto que ele ainda saiba que é amado e aceito. No momento em que ele se sentir rejeitado, você foi longe dentais. Esta é a única limitação.'' Sempre soubemos que éramos amados e aceitos. Sabíamos que o coração de papai ficava despedaçado quando ele tinha de disciplinar-nos, porque precisávamos disto.

Mas a pior surra que já levei foi na ocasião em que ele nem mesmo me tocou. Aconteceu em um verão. Camp Pottawatomie em Gull Lake localizava-se no meio de uma ilha. Era um acampamento de verão ou uma colônia de férias no Michigan. Papai e mamãe estavam procurando ajudar-nos a nos divertir. Tivemos tudo. Meu irmão e eu tivemos as canoas, a praia, as lanchas de corrida, a natação, e um ao outro. Aqui é que estava o problema. Hoje eles chamam a isto de "rivalidade entre irmãos". Não sei como se chamava isto naquele tempo. Nós chamávamos de briga.

Tudo começava como brincadeira inocente, mas sempre terminava em uma briga turbulenta. Brigas, brigas, brigas. Estragando as férias de papai e mamãe. Papai tentou surras, tentou privar-nos dos nossos privilégios na praia, tentou deixar-nos sem sobremesa, tentou deixar-nos sem jantar. Nada deu resultado. Ainda estávamos à garganta um do outro.

Finalmente ele nos chamou para dentro da cabana. Assentamo-nos à beira da cama, indagando o que viria em seguida. Mas ele tinha obviamente esgotado as soluções. Nada mais a fazer. Ele tentou pensar em algo. Nada mais. Tentou falar. Nada a dizer. E então, uma das poucas vezes em minha vida, vi lágrimas começando a correr do rosto do meu grande e forte pai. Ora, eu pude suportar cinta de couro e a mangueira da bomba de encher pneus, mas não pude suportar as lágrimas do meu pai. Desta vez eu estava realmente arrependido. Por quê? Porque percebi que havia partido o coração do meu melhor amigo, aquele que havia feito tanto por mim. Senti realmente o desejo de mudar. E o fizemos; meu irmão e eu nos tornamos amigos íntimos.

O que fez a diferença? Tenho refletido sobre estas experiências pessoais e sobre o que significa o arrependimento. Como se arrepende você? Você percebe que partiu o coração de alguém que o ama e isto lhe quebranta o coração. E aí que se encontra a verdadeira força vital do arrependimento. Romanos 2:4 nos afirma que a bondade de Deus nos leva ao arrependimento. E isto decorre mais ou menos assim:

1. Você se dá conta de que é um pecador, capaz de desapontar alguém.

2. Você percebe que Deus o ama e que Ele é seu Amigo porque você aprende a conhece-Lo pessoalmente.

3. Quando você faz algo que 0 desaponta, isto desaponta também a você.

4. Quando você compreende que embora Ele esteja desapontado, Seu poder, paciência e misericórdia ainda estão ali e que Ele ainda o aceita, isto lhe quebranta o coração. Isto não é humano, só pode ser divino!

Lembre-se, amigo, de que não há tal coisa como mudança de vida à parte de um relacionamento de intimidade com Cristo, porque este é o único meio de nos tornarmos tristes o suficiente para renunciar. Eu não pude suportar o coração quebrantado do meu amigo. Nem o pôde Pedro, um dos discípulos de Cristo.

Uma noite, estando ao lado de uma fogueira, uma criada o acusou de ser um discípulo de Jesus. E então ele começou a amaldiçoar e a jurar: "Não O conheço." Precisamente no meio de suas negações, seus olhos convergiram para os olhos de Jesus. A expressão do olhar de Jesus não era de ira ou ressentimento. Era um olhar que somente o Céu poderia ter produzido. Era mais do que uma expressão de tristeza e desapontamento, porque era também de piedade por Seu pobre discípulo e aceitação do mesmo. E estando Pedro ali e fitando os olhos em Jesus, viu o rosto pálido e sofredor, viu os trêmulos lábios manchados de sanguinolento suor e convulsionado de agonia. observou enquanto as pessoas O maltratavam, mãos perversas erguidas para feri-Lo, e mesmo cuspindo em Seu rosto.

Mas isto não foi tudo o que ele viu. Uma torrente de recordações se apoderou dele, e se lembrou do dia em que a voz amigável de Jesus o convidou a deixar as redes e segui-Lo; a noite em que ele, devido à sua própria fanfarronice, quis andar sobre a água e Jesus o salvou dos estrepitosos vagalhões antes que ele afundasse, a ocasião em que ele, no Templo, entrou em discussão sobre as moedas do tributo e Jesus ali estava para salvá-lo novamente. Também se lembrou da sua jactância diante de Jesus, apenas algumas horas antes, quando disse: ''Podes contar comigo; mesmo que todos fujam, eu nunca Te abandonarei!" E Jesus tinha respondido: "Pedro, Satanás te pediu para te cirandar como trigo, mas Eu orei para que a tua fé não desfaleça."

Subitamente, através dos olhos ofuscados de lágrimas, Pedro percebeu que naquela noite ele tinha desferido o mais duro golpe contra Jesus. Ele fugiu do espaço ao redor da fogueira, atravessou o portão, desceu as ruas escuras de Jerusalém até o portão dourado no muro da cidade, desceu a colina, atravessou o ribeiro de Cedrom e subiu até às oliveiras, o local do Jardim do Getsêmani. Ali ele tateou na escuridão, até que encontrou o próprio lugar onde Jesus estivera em angústia apenas algumas horas antes. E ele caiu sobre seu rosto e desejou morrer. Estava realmente arrependido. Por quê? Porque havia partido o coração do seu melhor Amigo.

Pedro viveu. Ele quis morrer, mas viveu. E posteriormente, estando ele diante de milhares de pessoas e convidando-as a irem a Cristo em busca do arrependimento, ele sabia do que estava falando. Quando você e eu compreendemos esta espécie de tristeza pelo pecado, recebemos o dom que Jesus oferece. Então somos cheios do anelo de conhecer Sua presença e o Seu poder de tal modo que não mais O desapontemos. É assim que a vida é transformada. É assim que se experimenta a vitória.

Escute, amigo, não existe nenhuma possibilidade de podermos mudar nossa vida. Somente Deus pode fazer isto, e não há nenhuma probabilidade de que Ele faça isso por mim enquanto eu não O reconhecer como meu Amigo pessoal e compreender o que significa minha vida para Ele. Pode você aceitar isto?

Eu gostaria de ter uma experiência mais profunda de arrependimento cada dia. Convido-o a procurar conhecer melhor a Deus.

 

Querido Pai celestial, obrigado por Teu grande amor, que não é humano. Não podemos compreendê-lo, porque não podemos operar deste modo separados de Ti, destituídos da Tua presença. Obrigado por buscar-nos quando nos desviamos, e obrigado por Teu convite a nos achegarmos ao arrependimento, para arrependimento, pelo arrependimento. Sabemos que Tu és o único que pode tornar-nos tristes suficientes para mudar. Ajuda-nos a experimentar o relacionamento contigo que faça ocorrer o arrependimento. Obrigado por Teu perdão e misericórdia, e ajuda-nos a continuar nos aproximando como Pedro.

 

 

 

Extraído do livro: Como tornar real o cristianismo.