COMO  LIDAR  COM  A  TENTAÇÃO

por Morris Venden

 

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reqüentemente tenho ouvido cristãos frustrados admitirem: "Compreendo que se estou concentrando meu tempo e esforço para continuar ateu relacionamento com Cristo, Ele então cuidará dos meus pecados. Compreendo que não devo combater meus próprios problemas e, teoricamente, se estou rendido a Cristo, não pecarei. Mas na experiência não tem acontecido isto. Acho-me pecando mesmo depois de passar tempo de manhã a sós comi Ele. Terei de esperar até à idade dos 90 anos antes de poder alcançar a vitória em minha vida? O que devo fazer até então?"

Questões práticas. E embora alguns possam pensar que esta preocupação com a santificação esteja confinada apenas a adolescentes e meninos e meninas, tenho encontrado muitas vovozinhas benévolas de cabelos brancos e outras pessoas idosas que têm confessado que este problema é real também em suas vidas.

Se pudéssemos descobrir como lidar cola a tentação segundo a maneira de Deus, e se pudéssemos aprender a explicar cada faceta deste tema, de sorte que ele fosse claramente compreendido, talvez responderíamos às mais prementes perguntas que as pessoas têm feito. A pouca compreensão que temos do assunto parece ter sido descoberta por acaso, e, infelizmente, muitos não podem transmitir a outros as razões para o sucesso em sua própria experiência.

Qual é à nossa parte ao tentarmos lidar com os pecados, problemas e tentações que surgem no transcurso do viver diário? Quanto esforço requer Deus de nós antes que possamos obter a vitória sobre a tentação?

Gostaria de lembrar-lhe, primeiramente, que se nós tentarmos lidar com nossos pecados e tentações separados de Deus, não teremos sucesso. Qualquer que tenta cuidar destas coisas através das suas próprias técnicas, métodos e truques irá perder a batalha. Também gostaria de afirmar que o método de cada pessoa para lidar com as tentações, antes da sua compreensão do nosso papel adequado no viver cristão, provavelmente tem sido influenciado pela porção de força de vontade que ela por acaso tem (ou pela porção que lhe falta). A questão de como lidar com a tentação é um composto de todas as facetas da justiça pela fé em Cristo somente. É a aplicação pessoal da teoria na crise individual.

Ao começarmos a estudar este tema, gostaria de enfatizar que o pecado não está confinado à área do comportamento – a prática de atos condenáveis. De acordo com Romanos 14:23, "tudo o que não provém de fé é pecado". Portanto, o maior pecado isolado (que causa todos os outros pecados) e o problema primordial na tentação é fazer seja o que for que fazemos, certo ou errado, fora da relação de fé com Cristo. Quando estamos vivendo separados dEle, da dependência dEle, os pecados – a prática de atos incorretos – seguem automaticamente como resultado. Se o meu problema parece estar com a prática de pecados, meu real problema está por trás do tema primário da dependência de Deus – se estou vivendo a vida de fé ou se estou me estribando m minha própria força.

Eis por que o diabo faz tudo o que pode para cortar nossa conexão com Cristo. Ele sabe que este relacionamento é a essência e o total da vida cristã. Tenta-nos por meio de nossas fraquezas, nossos problemas e nossas falhas passadas, e uma vez tendo afastado nossa atenção de Cristo, pode acabar conosco com uma de suas grandes armas.

A Bíblia nos dá algum encorajamento para a vitória genuína, porque somos informados de que Jesus compreende nossas lutas e problemas.

"Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna." Hebreus 4:14-16.

Esta passagem nos afirma que temos um grande Sumo Sacerdote no Céu – uma Pessoa realmente viva em forma humana no Céu. o que está Ele fazendo? Ele está recordando con1o foi viver en1nosso afundo de pecado, e sabe o que significa "compadecer-Se das nossas fraquezas". Quando Ele esteve aqui na Terra, foi tentado do mesmo modo que somos hoje.

Ora, Ele não foi tentado a conter um sorvete triplo, ou um sorvete de três bolas cinco vezes por semana. Ele não foi tentado a assistir a filmes de crimes pela televisão às duas horas da madrugada. Quando a Bíblia diz que Ele foi tentado "em todas as coisas", não quer dizer em todos os detalhes das tentações que temos hoje. Automóveis teriam sido carruagens em Seus dias! A leitura de histórias em quadrinhos em minha adolescência equivaleria hoje ao uso de maconha. Parece ter havido, através dos séculos, uma evolução em termos de pecados e tentações e das coisas que clamam por nossa atenção, mas o princípio básico que está por trás de todos os pecados e tentações permanece o mesmo.

A pessoa que procura descobrir como foi possível Jesus ter sido tentado em todas as pequenas coisas que hoje temos de enfrentar está indo longe demais. Gostaria de acrescentar que "todas as coisas'' não aparece no texto grego original: ele meramente diz que Jesus foi tentado em "tudo". Mas Ele foi tentado em todas as dimensões e provavelmente foi tentado ainda além do que venhamos a ser, porém Ele não pecou.

Por ser Jesus o nosso grande exemplo de como viver, isto nos ajuda a saber como Ele venceu as tentações. O que tinha Ele a dizer sobre o assunto? Ele estava no horto do Getsêmani pouco antes da Sua captura e julgamento. Seus discípulos deveriam fazer-Lhe companhia, mas eles estavam sendo tomados de sonolência; tendo dificuldades para ficar acordados. E Jesus lhes disse: "Orai, para que não entreis em tentação. ... Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação." S. Lucas 22:40 e 46. Você percebe a seqüência? Orem agora – antes que venha a tentação.

O livro de S. Mateus descreve a mesma cena com fraseado ligeiramente diferente: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, alas a carne é fraca. " S. Mateus 26:41.

Ora, diriam algumas pessoas: "Está aí o segredo. Devo vigiar contra a tentação, e ao primeiro sinal de dificuldade, orarei e alcançarei a vitória."

Não, eu não creio que Jesus ensinou isto. A seqüência é orar antes mesmo que apareça a tentação. Não é isto o que Jesus estava dizendo? "Vigiai e orai" – agora, "para que não entreis em tentação" – depois. "Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça" – agora, "a fim de ... acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" depois. Isto faz sentido para você?

Creio que temos sido derrotados em nossas tentativas para viver a vida cristã porque em uma crise procuramos extrair um poder de reserva que não temos. Esquecemo-nos de que não devemos preencher um cheque a menos que tenhamos dinheiro no banco para cobri-lo. E quando preenchemos um cheque sem termos reserva no banco, ele é devolvido. Posso sugerir-lhe que as verdadeiras vitórias sobre as tentações são sempre ganhas muito antes de chegar a tentação? Se você espera a vitória baseado unicamente em algo que espera fazer no momento em que vêm as tentações, você falhará.

O apóstolo S. Pedro enfatizou a necessidade de termos poder antes de ocorrer a tentação quando disse: "Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos." II S. Pedro 2:9, Almeida antiga. Note que você tem de estar entre os piedosos antes que possa ser livrado, e lembre-se de que ser piedoso é mais do que simplesmente ser um membro da igreja. Entrementes, devemos saber muito disto! Judas foi um membro de igreja; ele foi até mesmo tesoureiro. Ananias e Safira foram membros da igreja. Ser piedoso inclui algo mais do que moralidade externa quando os outros estão olhando. Vai além do mero pagamento do dízimo, de ser firmes reformadores da saúde, ou dar sua propriedade para a igreja. Algumas das melhores pessoas em termos de comportamento moral – de fato, líderes da igreja – crucificaram a Jesus. É impossível ser piedoso separado do conhecimento de Deus e de ser um participante da Sua piedade.

Seria seguro dizer que o Senhor é incapaz de livrar da tentação os injustos? Por que Ele não pode? Quando as pessoas afirmam que Deus pode fazer qualquer coisa, se esquecem de que Ele nos dá liberdade de escolha. Deus não pode mudar minha vida a menos que eu Lho peça. Devido ao grande conflito entre o bem e o mal no Universo, Ele voluntariamente Se limitou a Si mesmo no que tange à transformação da minha vida. A natureza do Seu reino não é a força. Ele jamais nos pressiona. Devemos escolher submeter-nos ao Seu controle de amor. E se não escolhemos depender de Deus, Ele então não pode ajudar-nos a enfrentar a tentação. Somente quando Lhe permitimos que nos conduza à experiência de sermos espirituais (em vez de simplesmente religiosos) pode Ele nos livrar das tentações.

Em outras palavras, o grande Deus que criou e controla o Sol, a Lua, as estrelas, e todos os planetas, guardando-os de colidirem, o Deus que mantém toda a vida através do Universo, o Deus que pôde suspender sobre o nada um mundo de seis sextilhões de toneladas – este mesmo Deus não pode fazer nada para mudar minha vida a menos que eu Lho permita.

Freqüentemente examinamos a Bíblia à procura de promessas que podemos reclamar como auxílio em tempo de dificuldade, ignorando as condições estabelecidas naquelas promessas. Um desses textos encontra-se em I Coríntios 10:13: "Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar."

É este texto para qualquer um que queira reclamá-lo? Não estava Paulo falando somente para pessoas piedosas? Talvez Paulo estivesse sendo um tanto quanto gracioso para com os cristãos de Corinto, mas ele estava supondo que seus leitores sabiam o que significava ser espiritual, ser piedoso e ter um relacionamento de fé com Deus. E não creio que esta promessa possa aplicar-se a uma pessoa que esteja vivendo fora deste relacionamento.

Ora, todos nós temos ouvido sobre vários remédios que são sugeridos às pessoas para vencer as tentações. Você já experimentou um desses? Eu já experimentei todos eles, mas não funcionaram. Não creio que orar quando vem a tentação me dará a vitória. Tenho tentado isto, e não deu certo. Não creio que citar versos das Escrituras quando vêm as tentações me dará a vitória sobre a tentação. Tenho experimentado também isto, e não dá resultado. Não creio, tampouco, que cantar hinos seja eficiente, porque já tentei todas as estrofes! E costumeiramente quando as pessoas tentam estes métodos, ficam frustradas e desanimadas, porque ainda vêm o fracasso e a derrota. O problema é que elas estão travando o combate onde o combate não está.

Por não termos percebido que a vitória vem somente através do nosso relacionamento com Cristo, temos projetado todos estes substitutos de feitura humana. Lembro-me de ter ouvido alguém discutir casos reais que "provavam" que a solução estava em orar quando vem a tentação. Ele contou de um homem que estava zangado com outro homem; estava pronto para aplicar um soco violento no rosto do outro. Seus olhos estavam salientes, o pescoço vermelho; suas veias estavam sobressaindo. Mas pouco antes de esmurrar a boca do outro sujeito, ele se deu conta de que estava sendo tentado. E o conselho era que quando ele chegasse a este ponto de percepção, deveria orar. Realmente? Ele deveria ter orado muito tempo antes de chegar a este ponto!

Suponha que eu estivesse na fila de uma sorveteria pela quinta vez nesta semana, pronto a pedir um sorvete de três bolas (você sabe, esta é a maneira vegetariana de embriagar-se!). Ali estou eu. O atendente já pôs as conchas. Tenho a casquinha na mão e estou prestes a dar uma mordida. Subitamente me dou conta de que estou lutando contra a tentação. É estranho que eu não tenha reconhecido a tentação antes de chegar a este estágio da mesma! Já não perdi a batalha sobre o problema primário? Se é assim, o exercício da força de vontade a esta altura me ajudaria a não levar a cabo o ato, mas não me daria genuína vitória porque toda obediência verdadeira provém do coração.

Veja, há dois pontos a serem lembrados 1) o problema real do pecado e da tentação está na dependência de mim mesmo, e 2) se eu dependo de mim mesmo, geralmente recorro a certos truques e manobras para me evadir da crise na qual já estou. Mesmo que eu consiga parar antes de levar avante a presente tentação, a "vitória" é apenas externa. O plano divino para nós é resistir ao problema primário do pecado e da tentação combatendo o combate da fé – sabendo o que significa depender de Deus. E neste relacionamento de fé, há dinheiro no banco. Então, quando sobrevêm as tentações, Deus Se encarrega delas por mim.

O problema é, porém, que o tipo de pessoa "teimosa" – aquela que é capaz de lidar exteriormente com a tentação à parte do seu relacionamento de dependência – engana-se a si mesmo por pensar que está lidando adequadamente com as tentações. Mas lembre-se de que a tentação e o pecado são mais fortes do que a força de vontade de qualquer homem, e se eu acho que tenho energia suficiente para vencer por mim mesmo o problema real da tentação, estou me iludindo. A única coisa que eu posso fazer com minha energia ao lidar com a tentação é parecer vitorioso exteriormente. Mas interiormente eu já perdi a batalha. A verdadeira e fundamental vitória está sempre dentro dos limites que antecedem a chegada da crise até mim. A vitória não vem no momento da crise.

"Bem", dirá alguém, "Jesus citou as Escrituras quando estava sendo tentado, e foi assim que Ele alcançou a vitória sobre o diabo!"

Jesus citou as Escrituras, mas esta não é a maneira pela qual Ele alcançou a vitória. É muito interessante ler o relato da Sua tentação no deserto. "A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito, ao deserto, para ser tentado pelo diabo." S. Mateus 4:1. Jesus era guiado pelo Espírito. Ele estava disposto a permitir que Deus dirigisse Sua vida e ações.

Ora, alguns têm afirmado que o problema real na tentação foi o apetite, e que Jesus alcançou a vitória sobre Seu apetite citando as Escrituras. Mas é pecado estar com fome não tendo você provado alimento por seis semanas? Não. A primeira tentação do diabo não foi levar Jesus a comer. O problema era inteiramente diferente. Era levar Jesus a fazer algo por Si mesmo, usando Sua divindade inerente ao invés de confiar no poder do Seu Pai. Se Ele tivesse Se rendido ao sarcasmo do diabo, teria arruinado a demonstração que veio dar tanto quanto à maneira conto devemos viver conto quanto à maneira conto devemos lidar com as tentações.

Jesus não caiu nas armadilhas do diabo. Sua resposta constante foi: "Está escrito...", mas alguns têm usado essa experiência para apoiar a idéia de que devemos memorizar as Escrituras para sairmos da dificuldade. Não dependeu Jesus de citar as Escrituras para a vitória? Não! Exploremos um pouco mais esta possibilidade.

Você já esteve em uma situação em que estava sendo tentado e na qual você sentiu que se citasse as Escrituras, isto poderia ajudar, mas você não citou as Escrituras porque àquela altura não queria ajuda?

Suponhamos que você estivesse sendo tentado a tomar um sorvete de três bolas em uma sorveteria. Você está com medo de que se orasse, Deus poderia conseguir detê-lo de levar a efeito a tentação. Assim você deixa sua oração para depois, quando pede perdão. Estou falando por experiência própria.

Portanto, há o tipo de tentação em que você não tem tempo para orar ou citar as Escrituras. Algumas tentações requerem cuidadoso planejamento, reflexão e premeditação da sua parte – são a longo prazo. Mas a tentação imediata é mais rápida – se você me der um tapa, eu revidarei. Não há tempo para citar versos bíblicos. Nenhum tempo para orar. Nenhum tempo para cantar hinos. E se você pretende buscar alguma ajuda para as tentações imediatas, precisa ter a reserva no banco antes mesmo de ser atingido pelas tentações. Tem isto algum sentido? E realmente há alguma diferença em princípio entre as tentações a longo prazo e as imediatas? Nenhuma diferença.

As de longo prazo ocorrem quando alguém sugere: "Vamos à sorveteria na próxima semana. Eu o encontrarei ali." A única diferença é que você tem toda a semana para planejá-la. (E por favor, não se distancie da sorveteria por causa da minha ilustração!)

Então, por que citou Jesus as Escrituras se não foi para obter a vitória? A citação das Escrituras foi uma reação espontânea à crise do momento. Ele já havia aprendido o uso das Escrituras de joelhos, em oração secreta – muito antes da crise com Satanás no deserto – e Ele sabia o que significava ter as extraordinárias riquezas da graça e do poder de Deus em Sua vida. Ele dependeu, para a vitória, da presença de Deus que habitava em Sua vida, resultante do Seu relacionamento pessoal diário com o Pai. Uma pessoa pode orar quando é tentada, se está em contato com o Pai; pode citar as Escrituras, pode cantar, mas não é isto que lhe dá a vitória sobre a tentação. Está bastante claro

É verdade que Jesus nos disse que devemos vigiar e orar. Mas Ele não estava falando primariamente acerca de vigiar quanto às tentações em coisas específicas. Precisamos vigiar para que nada nos separe ou nos afaste de Deus, de nossa dependência pessoal, do relacionamento diário com Ele. Só então podemos ter a vitória.

O livro Caminho a Cristo afirma isto deste modo:

"Mas Cristo nos proveu um meio de escape. Viveu na Terra em meio de provas e tentações como as que nos sobrevêm a nós. Viveu uma vida sem pecado. Morreu por nós, e agora Se oferece para nos tirar os pecados e dar-nos Sua justiça." – Pág. 62.

Como nossa dependência de Cristo nos dá a vitória sobre os pecados? O que realiza o nosso relacionamento com Deus?

"Cristo mudará o coração. Nele habitará, pela fé. Pela fé e contínua submissão de vossa vontade a Cristo, deveis manter essa ligação com Ele; e enquanto isso fizerdes, Ele operará em vós o querer e o efetuar, segundo o Seu beneplácito. ... Assim, operando Cristo em vós, manifestareis o mesmo espírito e praticareis as mesmas obras – obras de justiça e obediência." – Idem, págs. 62 e 63.

Este mesmo princípio é ensinado em Hebreus 4:16, mas muitos de nós têm compreendido mal e usado mal o significado do texto. Se o fôssemos ler da maneira como freqüentemente o temos feito ao lidarmos com as tentações por nossa conta, leríamos o seguinte: "Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça em ocasião oportuna a fim de recebermos misericórdia." Mas a passagem não diz isso! Ela diz: "Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna." Hebreus 4:16. Vê você a diferença entre as duas maneiras de ler este verso?

Já mencionei um banco do qual podemos sacar poder de reserva. As inescrutáveis riquezas da graça de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo fazem qualquer milionário aqui na Terra parecer um mendigo! Existe um poderoso banco no Céu do qual podemos sacar? Sim! Se sabemos o que significa manter-nos em contato com o grande Banqueiro do Céu, então, quando vier a crise, o poder estará lá à nossa disposição. Não é isto verdade? E eu gostaria de saber mais a respeito de como me manter em constante contato com a Fonte deste poder.

"Bem", dirá alguém, "então você está afirmando que Deus só pode livrar da tentação os piedosos, e se eu caio em tentação, então não sou piedoso."

É isto correto? Em um sentido, sim! Naquele momento eu não estava me apoiando em Deus, de sorte que caí. O Senhor sabe me livrar da tentação nas ocasiões em que estou dependendo dEle, ao invés de depender de mim mesmo, mesmo enquanto estou tentando aprender o que significa ser "piedoso" ou dependente dEle em todo o tempo.

Em outras palavras, posso conhecer a vitória final sempre que eu esteja dependendo dEle. (Não existe tal coisa conto entrega parcial, porque a qualquer momento eu posso tanto depender totalmente de Deus quanto depender totalmente de mim mesmo.) Portanto, não tenho de esperar até que eu tenha 90 anos de idade para poder experimentar a vitória sobre os pecados. Isto pode acontecer a qualquer momento em que eu esteja inteiramente submisso a Ele, mesmo no início da minha experiência cristã, porque o crescimento no processo de santificação está na constância da minha entrega ao Seu controle de amor.

Então, simplesmente porque caio em determinada tentação não significa que eu não pertenço ainda a Deus. Isto indica, porém, que em algum sentido, porque sou um cristão imaturo, não estou dependendo dEle no momento, mas, pelo contrário, dependendo de mim mesmo e de algumas manobras extravagantes para me tirar da crise. Quando me dou conta de que pequei, não perco tempo, mas vou imediatamente a Deus em arrependimento. E se eu continuar a buscá-Lo a despeito das minhas falhas, Ele me ajudará a alcançar a vitória contínua, completa e definitiva.

Este é o significado do texto que diz: "Todo aquele que permanece nEle não vive pecando; todo aquele que vive pecando não O viu, nem O conheceu." I S. João 3:6.

Tenho ouvido alguns afirmarem que este texto significa que não pecaremos habitua1nlente, mas ninguém ainda me disse quando um pecado se torna um hábito. Se eu comprar unta casquinha de sorvete numa sorveteria uma vez por ano, é isto um hábito? Terei de tomar sorvete todo dia 31 de dezembro? E se eu comer um sorvete triplo ou de três bolas unta vez por mês? Ou isto constitui um hábito somente se eu o fizer cinco vezes por semana? Eu o desafio a dizer o que seria o pecado habitual, se o pecado é definido apenas em termos de comportamento.

O que significa rea1nlente o texto? Ele está nos dizendo que o problema fundamental do pecado é não permanecer nEle. Então se eu estou permanecendo nEle, não estou pecando. Quando não estou permanecendo nEle, estou pecando. O verso 9 de I S. João 3 nos diz que "todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nEle é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus''. Quando nasço de novo, quando me converto, não quero viver em minha própria independência. Quero qualificar-me para o que significa permanecer em Cristo, estar sob o Seu controle de amor. Este é o problema básico do pecado, o problema primário em qualquer tentação – fazer seja o que for que eu faça separado da dependência dEle.

Lembre-se de que nunca foi plano de Deus que devêssemos estar preocupados com nossos pecados, nossos erros, ou nossos problemas. Se nos concentramos neles, o diabo tem certeza da vitória. O plano de Deus é melhor. Consiste em olhar para Ele, refletir nEle e conhecê-Lo em um relacionamento pessoal e diário de amor e dependência. Esta direção da vontade é a maneira correta de lidar com a tentação.

Sou grato pelo exemplo dado por Jesus e pelas experiências de pessoas que aprenderam e que ainda estão aprendendo a verdade no que tange a lidar com a tentação. Tenho sido encorajado por um escritor que partilha conosco sua experiência nestas palavras:

"Por muito tempo tentei obter a vitória sobre o pecado, mas falhei. Desde então aprendi o motivo. Ao invés de fazer a parte que Deus espera de mim e que eu posso fazer, estou tentando fazer a parte de Deus, que Ele não espera que eu faça e que não posso fazer. Antes de mais nada, minha parte não é alcançar a vitória, mas receber a vitória que já foi ganha para mim por Jesus Cristo."

Pode você identificar-se com ele? Ele continua:

"Esta vitória é inseparável do próprio Cristo, e quando eu aprendo a receber a Cristo como minha vitória por intermédio da união com Ele, entrei na posse de uma nova experiência. Não quero dizer que não tenho tido nenhum conflito e que não tenho cometido nenhum erro. Longe disto. Mas meus conflitos têm ocorrido quando se abateram influências sobre mim para induzir-me a perder a confiança em Cristo como meu Salvador pessoal e separar-me dEle. . . .

"O combate que eu tenho de combater é o bom combate da fé. Não creio em mim mesmo, e portanto não tenho nenhuma confiança em meu próprio poder para vencer o mal. Eu o ouço dizendo-me: "o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza", e assim entrego todo o meu ser para estar sob Seu controle, permitindo-Lhe que opere em mim "tanto o querer como o realizar''... Ele não me desaponta. Vivendo em mim Sua vida vitoriosa, Ele me dá a vitória." – W. W. Prescott, Victory in Christ, Review and Herald Publishing Association, págs. 25-27.

Eu gostaria de apelar a você, meu amigo, para aprender o que significa achegar-se ao trono da graça quando não há pressão, antes de surgir a crise, quando o diabo não o está assediando com tentações. Isso foi o que Jesus fez – Ele passava aquelas primeiras e calmas horas de cada manhã com Deus, buscando força para o dia. Essa é a única maneira em que podemos obter a vitória!

Nunca me esquecerei do dia em que esta verdade raiou em mim. Eu estivera estudando o tema da vida vitoriosa, e estava começando a concluir que todo o processo da santificação se baseava na comunhão contínua e no relacionan1ento com Jesus. Parecia bom demais para ser verdade. Dificilmente pude acreditar que isso fosse tão simples. E lembro-me de ter pedido a Deus uma amostra naquela manhã: ''Por favor, Senhor, isso soa como a resposta. Acho que compreendo a teoria, mas preciso também experimentá-la. Por favor, dê-me hoje um exemplo disso."

Fui para o meu trabalho e me esqueci de tudo acerca daquela oração até ao meio-dia, quando eu estava descendo de carro uma rua movimentada de Sacramento. Subitamente uma tentação da carne me atingiu, e no momento em que isso ocorreu, houve um tremor frio, como um choque elétrico que passou por mim, e isso não fazia sentido, era um dia quente de verão. Evidentemente, minha reação súbita à tentação causou o tremor frio. No mesmo instante, a tentação sumiu, e embora momentaneamente eu tentasse, não pude me lembrar do que era. Foi como um tipo de amnésia.

Talvez esta experiência lhe pareça excêntrica, mas eu acho que não foi. Você poderia explicá-la como unta espécie de precondicionamento psicológico, mas eu não. Eu sabia que o meu contato com Deus naquela manhã tinha sido válido, e sabia que Deus estava contigo no momento da tentação. Lembro-me de ter encostado o carro no meio-fio. Não pude conter as lágrimas enquanto curvava a fronte e pedia a Deus que me ajudasse a nunca esquecer aquele momento, e que me ajudasse a partilhar com outros a base dessa experiência. Creio que Deus, em Seu grande autor, me deu ali mesmo, para encorajar-me, em resposta à minha oração, uma amostra do que pode ser a vitória final.

Gostaria de poder dizer que cada momento de cada dia desde aquela ocasião tem sido conto aquele, alas, conto todos os dentais, tive de passar pela dolorosa luta do cresc1nlento, aprendendo a depender riais e riais constantemente de Deus e cada vez menos dos ateus próprios esquemas. Sou grato ao grande Deus do Céu, que prometeu lidar com as nossas tentações em nosso favor, que prometeu suprir o poder que não temos.

Sou grato por Jesus, que tornou possível a vitória por Sua vida vitoriosa e por Sua morte na cruz. Quero conhecer mais a respeito da dependência dEle, de permanecer nEle cada momento de cada dia. E você?

 

Querido Pai celestial, obrigado por não desistires de nós quando falhamos. Às vezes nos maravilhamos de como podes ser tão paciente e perdoador. Por favor, livra-nos de depender de nós mesmos e dos nossos débeis esforços para alcançar a vitória, e ajuda-nos a compreender o que realmente significa depender do Teu poder e da Tua força – permanecendo em Teu amor. Repreende o poder do inimigo e concede-nos a vitória através de nosso Senhor Jesus. Rogamos em Seu nome. Amém. 

 

 

Extraído do livro: Como tornar real o cristianismo.