O  BOM  COMBATE  DA 

por Morris Venden

 

A comunidade precisava desesperadamente de chuva, os poços estavam secos e as plantas ressequidas. De sorte que o pregador convocou uma reunião especial de oração. Naquela noite a igreja lotou. Uma meninazinha trouxe o seu guarda-chuva!

A congregação sorriu ante a demonstração de fé da criança. Mas quando a chuva chegou alguns minutos depois, a garotinha foi a única que não se molhou.

O que provocou a chuva? Foi a meninazinha e seu guarda-chuva? ou ela levou o seu guarda-chuva porque sabia que ia chover? Sua interpretação da história dependerá provavelmente da sua compreensão de fé e de como ela opera.

Há muitos que imaginam ser a fé simplesmente pensamento positivo – que se você puder crer, com convicção, que algo irá acontecer, isto acontecerá. Essas pessoas concebem a fé como algo autogerado, algo que se produz. Uma das mais comuns interpretações ou compreensões de fé nos círculos cristãos é que "fé é crer". Outras definições comuns ou vulgares são que "fé é pegar a Deus em Sua Palavra'', ou, "fé é crer no que Deus diz". Estes conceitos de fé são insuficientes e intangíveis. Não é de admirar que se nos diga que a Terra está quase destituída de verdadeira fé (S. Lucas 18:8) – escassamente sabemos o que é, realmente, a verdadeira fé.

Consideremos uma experiência bíblica, encontrada em S. Mateus 15:21-28, onde Jesus elogia uma mulher por sua fé, e vejamos como se ajustam estas definições.

"Partindo Jesus dali, retirou-Se para os lados de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra."

Habitualmente os judeus ignoravam os cananeus. Mas nunca é agradável ser ignorado. Isto faria parecer que a mulher teria desistido e se retirado. Mas ela não o fez.

"E os Seus discípulos, aproximando-se, rogaram-Lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós.'' E aparentemente Jesus concordou com eles, pois respondeu: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel." Ele poderia também ter dito: "Não vim ajudá-la."

"Ela, porém, veio e O adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!"

"Então, Ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos."

Já lhe aconteceu de ser desconsiderado ao pedir auxílio, e então, ao persistir em seu pedido, ser insultado? Já foi chamado de cão? Parece surpreendente que essa mulher não desistisse muito antes de Jesus chegar à parte dos "cachorrinhos". Mas ela encontrara a oportunidade que vinha procurando. Jesus deve ter piscado um olho durante a conversação. E a mulher cananéia deve tê-lo percebido, porque respondeu: "Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos." Em outras palavras, se eu sou um cachorro, então ao menos estou habilitada a algum alimento de cachorro!

"Então lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E desde aquele momento sua filha ficou sã."

Agora deixe-me perguntar-lhe: Como é a fé definida neste relato? É pegar a Deus em Sua palavra? Não, se a mulher tivesse pegado a Deus em Sua palavra, ela teria desistido. Você define fé em termos de crença, ou crer no que Deus diz? Não pode; isto não dá certo. A fé, em seu caso, consistiu em descrer do que Jesus disse. Fé não era pegar a Deus em Sua palavra.

Por causa das definições inadequadas de fé, se tem desenvolvido uma forma muito sutil de pseudofé. Lembro-me de ter ouvido uma crônica intitulada "Como Tornar-se um Sucesso''. 0 orador, com 35 anos de idade, tinha se aposentado com uma renda de 35.000 dólares por ano. Seu tema era que você deve acreditar em si mesmo e em sua mente maravilhosa a fim de ser um sucesso. Citava alguns textos bíblicos para apoiar o seu ponto de vista e sugeria que a única barreira, o único obstáculo contra o sucesso era alguém deixar de crer em sua própria capacidade. Se seus ouvintes experimentassem seu plano por 30 dias, prometia ele, seriam bem-sucedidos em qualquer coisa que quisessem fazer. Sua lógica quase fazia sentido, mas não pude deixar de lembrar-me de um texto bíblico que diz: "O que confia no seu próprio coração [mente] é insensato. " Provérbios 28:26.

O denominador comum da falsa fé, independente da forma que a mesma venha a tomar, é a idéia de que você pode se persuadir a crer em alguma coisa, e que se você crer o suficiente, isto levará Deus a Se mover. Isto se reduz a um tipo de ginástica mental, ou pensamento positivo, e talvez seu maior perigo é que ela inevitavelmente se torna egocêntrica, da mesma maneira como o tentar vencer seus pecados por seus próprios esforços, faz de você um egoísta.

Tendo uma fé falsa, o conceito que alguém possui de Deus e da compreensão da Sua vontade, torna-se confuso. Alguns cristãos crêem que se você tiver fé suficiente, qualquer promessa que você possa encontrar na Palavra de Deus torna-se imediatamente Sua vontade. Esta espécie de pessoa trabalha arduamente para persuadir-se de que determinadas promessas irão cumprir-se em seu caso, ou no caso de alguém, e faz sua confiança e amor a Deus depender das respostas serem ou não adequadas. Freqüentemente toma passagens fora do contexto e começa a usar a Deus como uma espécie de Papai Noel ou lâmpada de Aladim. Seu propósito primordial na oração é obter respostas.

O que há de trágico é que um indivíduo de mente decidida e resoluta poderia ser capaz de ter bom êxito nisto até certo ponto, e acabar crendo ou tendo fé em si mesmo, não em Deus. E visto que ele parece ter sucesso, sua fé autogerada pode tornar-se uma evasão fatal do relacionamento pessoal com Cristo. Ele não sente nenhuma necessidade de Deus. Eis aí a razão por que pensamento positivo não é fé. Isto nunca foi fé e jamais o será! Ao contrário, é uma forma sutil de ''salvação pelas obras'', uma "vanglória" em que eu recebo o crédito por ter talento suficiente para fazer as coisas acontecerem. E quando não sou bem-sucedido em obter as respostas que eu quero, minha vida espiritual pode ser devastada.

Um homem entrou um dia em meu escritório, prorrompeu em soluços, e disse:

– Você pode ficar com seu Deus, sua fé, sua religião e sua Bíblia. Vou acabar com tudo isto.

– Por quê? Qual é o problema?

– Minha esposa acaba de falecer. E eu tenho lido nas Escrituras que "Tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis.'' Por dois anos eu acreditei que minha esposa não morreria. Eu lhe dizia diariamente: "Não se preocupe; você não irá morrer.'' E agora ela está morta. E eu não quero mais nada com Deus. Acabou-se.

Esse homem não tinha dúvidas quanto a isto. Ele não censurava a si mesmo – achava que sua fé tinha sido absoluta. Era Deus que havia falhado!

Esse homem tinha fé? Não – ele não conhecia absolutamente nada a respeito de fé. Suas reações em tempo de crise provaram isto.

No primeiro ano de meu ministério, alguém me convidou para visitar um moribundo. Os parentes e amigos esperavam que nós orássemos e o ungíssemos. Naquele tempo eu pensava que se alguém pudesse crer o suficiente que se eles pudessem criar a coragem de Pedro e João junto à Porta Formosa, poderiam dizer: "Em nome de Jesus, levanta-te'' – isto aconteceria. E que Deus não agiria a menos que alguém fizesse isto.

Bem, eu me dirigi à beira da cama do homem. Nós o ungimos com azeite e oramos. Quando abrimos os olhos após a oração, eu olhei ao redor para ver quem teria a coragem de Pedro e João. Mas todos estavam olhando para mim! E eu não tive a coragem. Rapidamente imaginei algumas racionalizações e murmurei algo acerca de Deus respondendo a oração de diferentes maneiras, às vezes imediatamente, e outras vezes depois, e me retirei apressadamente. O homem morreu, e eu pensei que o havia matado porque não tive fé suficiente.

Você não passa por este tipo de experiência mais de uma vez sem se dar ao trabalho de estudar para saber exatamente o que significa essa questão de fé.

A Bíblia deixa claro que a todos é dada fé suficiente para começar. Diz Romanos 12:3: "...segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um." Geralmente pensamos na fé em termos de quantidade. Portanto, procuramos aumentar a quantidade que temos. Os discípulos de Jesus tinham a mesma idéia, e um dia Lhe pediram que lhes aumentasse a fé (S. Lucas 17).

Jesus respondeu-lhes: "Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá.''

O que estava Jesus dizendo? Ele estava afirmando que não era tão importante a quantidade de fé, mas se eles tinham ou não a fé genuína. Deus contempla a nossa fé em termos de qualidade, não de quantidade. Se eu tivesse a coisa real, então apenas a quantidade de um grão de mostarda poderia operar maravilhas.

Contudo, a fé cresce ao ser exercitada. Você já teve a curiosidade de saber como se deve exercitar a fé? É a fé exercitada pondo-se você em lugares difíceis e então esperando que Deus o tire de lá? É a fé exercitada ao você preencher cheques quando o seu saldo bancário é zero e então esperar que Deus cubra os cheques? Você exercita a fé reclamando as promessas?

Conheci recentemente uma família que havia concluído que deveria mudar-se para o campo. Compraram um pedaço de terra e estavam dispostos a construir sua casa, mas não havia água no terreno.

Veio então alguém ao lugar a fim de ensinar as pessoas a reclamar as promessas. A família pediu-lhe que viesse e os ajudasse a reclamar uma promessa, e eles se reuniram na fazenda. Eles reclamaram a promessa: "Buscai, e achareis" – que, a propósito, não tem nada a ver com achar água num poço. Mas a água veio! A família regozijou-se, construiu sua casa e mudou-se para o novo local.

Depois o poço secou. Quando os vi pela última vez, eles eram pessoas muito confusas. Havia algo de errado em sua fé? Havia algo errado com a promessa? Ou havia algo de errado com Deus?

Um estudante voltava para o colégio depois das férias. Ele se achava em um avião com um membro do corpo docente, e por causa de um denso nevoeiro, eles não puderam aterrissar no aeroporto conforme planejado. O estudante disse ao professor que estava ao seu lado: "Veja isto! Eu vou reclamar uma promessa, e o nevoeiro desaparecerá." Ele reclamou uma promessa, mas o nevoeiro não foi embora. E o estudante ficou desanimado.

O que ele não percebia era que poderia não ser necessário que ele aterrissasse naquele aeroporto específico. Talvez a vontade de Deus fosse que ele aterrissasse em alguma outra localidade. De fato, tem havido boas pessoas, gente piedosa que têm sucumbido em desastres de avião – e isto aconteceu, não porque lhes faltou a fé, nem porque não soubessem como reclamar a devida promessa.

Dois homens foram queimados na fogueira. Seus nomes eram Huss e Jerônimo. E eles são apenas dois dentre milhares que pereceram durante a Idade Escura. Se reclamar as promessas é o método correto para levar Deus a agir, então Huss e Jerônimo realmente não o perceberam. Porque há uma linda promessa em Isaías 43:2 que diz: "Quando passares pelas águas Eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti."

Mas não me diga que Huss e Jerônimo morreram porque não tinham a devida espécie de fé. Se eu compreendo isto corretamente, Huss e Jerônimo morreram porque tinham fé. E parte da promessa se cumpriu para eles, mesmo sem que a reclamassem, porque ela diz: "Quando passares pelo fogo, não te queimarás." Huss e Jerônimo morreram cantando! Você já pôs a mão em um fogão quente? Cantou? Ninguém morre na fogueira acesa com madeira verde e a fogo lento – cantando – a menos que não esteja sendo queimado. Mas a última metade desta passagem: "nem a chama arderá em ti'', não se cumpriu. Os mártires que cantavam foram reduzidos a cinzas, e suas cinzas foram lançadas no rio.

João Batista foi decapitado. Eliseu morreu depois de uma longa enfermidade – Eliseu, a quem fora dada uma porção dobrada do espírito de Elias. E "todos estes morreram na fé'' o que nos diz que a fé é muito mais do que você se persuadir de que Deus responderá à oração da maneira como você a detalhou.

Não creio que toda promessa que você possa encontrar na Palavra de Deus seja a vontade de Deus para você, nesta ocasião e sob estas circunstâncias. João Batista e Eliseu, Huss e Jerônimo, e uma multidão de outros, têm provado isto.

Há promessas na Palavra de Deus, porém, que são sempre a vontade de Deus. Estas são as promessas que têm a ver com as bênçãos espirituais. É sempre a vontade de Deus perdoar-nos o pecado, dar-nos Sua graça e poder, dar-nos sabedoria para fazer a Sua obra. Estas promessas nós podemos reclamar. Por estas bênçãos devemos pedir, e crer que as recebemos, e dar graças de que as temos recebido. Mas é óbvio, através da vida de pessoas piedosas, quando se trata de bênçãos temporais, inclusive a vida e a saúde, que a menos que a pessoa saiba por revelação especial qual é a vontade de Deus sobre o assunto, ela deve orar: "Seja feita a Tua vontade.

"O que é, então, fé genuína? É mais do que pegar a Deus em Sua palavra. É mais do que você se persuadir a crer. Nunca é uma coisa criada, elaborada e artificial. Quando você a estuda, chega à única definição apropriada de fé. É apenas uma palavra: Confiança. Fé genuína é confiança em Deus.

A palavra grega da qual é traduzida "fé" no Novo Testamento é também traduzida de no mínimo duas outras maneiras – "crença" e "confiança". Tudo vem da mesma palavra grega. Portanto, você pode tomar "crença" ou "fé", onde quer que as encontre, e sem prejudicar o pensamento ou o contexto, substituí-las pela palavra "confiança". Por exemplo: "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé" (I S. João 5:4), pode ser mudada para "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa confiança." Atos 16:31: "Crê no Senhor Jesus, e serás salvo", pode ser lido: "Confia no Senhor Jesus, ..." I Timóteo 6:12: "Combate o bom combate da confiança. "

Isto não é o mesmo que dizer meramente: "Eu creio." Em nosso mundo de hoje há uma espécie de fé vulgar, que requer apenas que você "creia em Cristo" a fim de ser salvo. Não! Aprender a confiar exige algo mais profundo do que isto – demanda um relacionamento pessoal e contínuo com um Deus que é completamente fidedigno.

Qual é o genuíno combate da fé? Qual é a nossa parte? Jesus disse que a nossa obra é confiar (S. João 6:29). Combatemos o bom combate quando aprendemos a confiar. Isto envolve o conhecimento dAquele que é digno de confiança.

Infelizmente, muitos de nós confundimos imediatamente o bom combate da fé, ou confiança, com o mau combate do pecado. Pensamos que combater o bom combate da fé consiste em tentar com dificuldade viver uma vida piedosa. O problema é que o indivíduo forte que combate o pecado poderia até certo ponto ser bem-sucedido exteriormente, mas tornar-se orgulhoso do seu sucesso e também deixar de ver sua necessidade de Deus. Por outro lado, a pessoa fraca que tenta mudar sua vida lutando contra o pecado não é bem-sucedida nem mesmo exteriormente – e fica desanimada. Nem compreende o que significa o combate da fé.

Quando eu era pastor em Oregon, fui solicitado a visitar um casal apóstata. Eles estavam revoltados contra os pregadores e tinham jurado que o próximo pregador que aparecesse seria arremessado ao pó.

Quando visitei o seu lar, eles amavelmente me convidaram a entrar e, para minha grande surpresa, disseram: "Somos apostatados." Eles então riram. Foi uma risada da qual nunca não esquecerei, porque era um riso de nervosismo, mas também de alívio.

Ao conversarmos, tornou-se logo evidente que eles tinham apostatado da idéia de que a religião consistia de proibições. Se algo tivesse sabor, agradasse ao paladar, eles não deveriam comê-lo; se tivesse bom aspecto ou boa aparência, não deveriam observá-lo; e se tivesse som agradável, não deveriam escutá-lo; e se fosse divertido, não deveriam fazê-lo!

Eles estiveram combatendo o mau combate do pecado, e no decorrer do tempo, acharam a religião enfadonha, difícil e triste. Todos os seus esforços para guardar a lei foram sem proveito. Em vez disto, deveriam ter estado combatendo o bom combate da fé. Tendo eles uma vez compreendido que o poder que alcança a vitória vem unicamente do conhecimento de Jesus Cristo, ficaram novamente emocionados com a religião.

A verdade é que você não precisa praticar maus atos para ser um pecador, e a ausência de más ações não o torna um cristão. A fim de ser um pecador, tudo o que você tem de fazer é nascer, porque todos nós somos nascidos com natureza inerentemente pecaminosa. A Bíblia nos diz que toda injustiça é pecado (I S. João 5:17) e que "não há justo, nem sequer um", porque "todos pecaram" (Romanos 3:10, 23). Embora alguns sejam mais capazes de evitar a prática de más ações, em realidade eles não são melhores do que os fracos que estão obviamente sofrendo derrota em sua experiência cristã.

Portanto, para onde devemos dirigir nossos esforços a fim de obter fé genuína, ou confiança? Alguns acham que devemos esforçar-nos, tentando produzir a fé – mas eu gostaria de lembrar-lhe que uma macieira produz maçãs porque é uma macieira, nunca a fim de tornar-se uma macieira. Se você quer ter maçãs, deve dirigir-se a uma macieira. Se quer ter fé genuína, preste atenção à origem da fé.

É claro que esta é uma abordagem simplista, mas não obstante verdadeira. Não há nenhum proveito na tentativa de produzir maçãs separado de uma macieira. As imitações de cera ou de plástico podem parecer muito convincentes exteriormente, mas com certeza não apresentam nenhum sabor que se assemelhe às verdadeiras maçãs provenientes de uma macieira!

Lembro-me de que estava no jardim da infância, quando celebrávamos aniversários natalícios apresentando uma réplica de um bolo e cantando "Parabéns a Você". Mas nunca partíamos o bolo! Ora, admito que alguns daqueles bolos pareciam muito ruins – pingando gesso de um lado, e gotas de cera de 10 anos de uso do outro. Alguns deles, porém, pareciam muito bons para se conter, e lembro-me do desapontamento que me vinha ao coração quando terminavam as aulas sem ter sido cortado o bolo.

Uma imitação é sempre frustrante; e uma imitação em termos de fé é decepcionante no final, embora a princípio possa lisonjear o ego.

Se eu quero fé, não me esforço para produzir fé. Por que não? O cristão genuíno tem fé porque conhece a Jesus. A fé autêntica não pode ser autogerada; vem unicamente como resultado espontâneo da comunhão com Deus.

Há no mínimo duas condições para sermos capazes de confiar em alguém. Primeira, você deve encontrar alguém que seja absolutamente confiável. E segunda, você deve conhecer a pessoa. Porque uma pessoa pode ter sido sempre fidedigna, mas se você não a conhece, não confia nela.

Isto opera também de maneira oposta. Uma pessoa pode ser absolutamente indigna de confiança, e você não desconfiar dela até que a conheça. Mas depois de conhecê-la, você automaticamente desconfiará dela!

Talvez você tenha ouvido acerca do homem que pôs o seu filhinho no topo de uma escada e ordenou-lhe que saltasse. O menino saltou, e o homem recuou e deixou que ele caísse sobre seu rosto. Então disse: "Toma! Isto te ensinará a jamais confiar em alguém." Esta é a espécie de mundo em que vivemos. Nos dias primitivos dos Estados Unidos, segundo as lendas, toda pessoa era confiável até provar em contrário. Se você devesse algum dinheiro a alguém, colocava-o dentro de um envelope e deixava-o fixado ao seu portão da frente. Você poderia sair de férias sabendo que ninguém o tocaria, exceto a pessoa a quem se destinava. Mesmo se ele passasse depois de uma semana ou mais, ainda encontrava o seu dinheiro ali. Mas hoje vivemos numa época em que todos tendem a desconfiar até que alguém prove ser digno de confiança.

A verdade bíblica é que Deus é absolutamente confiável. Embora seja esta a verdade acerca de Deus, alguns não crêem nela. E o único motivo por que não crêem é porque não O conhecem.

Qualquer pessoa que esteja desconfiando de Deus está apregoando o fato de que não O conhece. Porque conhecer a Deus é confiar nEle.

Se você travar conhecimento com alguém que é absolutamente honrado, automática e espontaneamente confiará nele. Não terá de se esforçar para isto – acontecerá naturalmente. A confiança em Deus é a primeira coisa que acontece quando você O conhece, e você não terá de produzi-la. A fé genuína confia em Deus, não importa o que aconteça. Fé significa confiança em Deus quando a tragédia se abate, bem como quando as coisas correm às mil maravilhas. A verdadeira fé confia em Deus, quer o aeroplano caia, quer o poço seque, na vida ou na morte. E esta idéia de "cristão-palha-de-arroz'' – de basear a fé nas respostas à oração da maneira como eu espero – é a contrafação da fé operada pelo diabo.

A fé autêntica não é um fim em si mesma. Não vem para aqueles que a buscam, mas para aqueles que não a procuram e que buscam unicamente a Jesus. A fé sempre tem um objetivo. Mas quando a própria fé se torna o objetivo, ela nos destruirá.

A fé legítima vem exclusivamente como resultado do conhecimento de Deus à base de um-para-um, pessoa-para-pessoa. E como é isto efetuado? Do mesmo modo que você conhece alguém – pela comunicação. Comunicamo-nos com os outros conversando com eles, ouvindo-os ao conversarem conosco, indo a lugares e fazendo as coisas juntos. Na vida cristã eu posso conversar com Deus em oração. Posso ouvi-Lo pela leitura da Sua palavra. E posso ir a lugares e fazer coisas com Ele, envolvendo-me no serviço missionário.

Os métodos de familiarizar-se com Deus são os elementos de uma vigorosa vida devocional. E quando me encontro dia a dia num relacionamento significativo com Deus, aprendo a confiar nEle – automática, espontânea e naturalmente. Isto é fé – confiança – no mais elevado sentido.

A fé, ou confiança, é um dom de Deus. Diz Efésios 2:8: ''Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.'' Há somente uma maneira de se receber um dom, e esta consiste em ir à presença do doador do doai ou presente. Como vai você à presença de Deus para receber Seu dom de confiança nEle? De joelhos diante da Sua Palavra aberta.

O propósito primordial da oração é amizade e familiaridade com Deus – não obter respostas. E o propósito primário do testemunho cristão é falar acerca do amor de Deus – não recontar unta lista de todas as respostas que você recebeu.

O que é o bom combate da fé? É lançar mão da medida da fé já dada e usá-la no sentido de tornar-me cada dia pessoalmente familiarizado com Deus, aprendendo a conhecer a Jesus, de tal modo que eu possa confiar nEle como um resultado espontâneo de conhecê-Lo. Eu jantais combato pela fé – eu combato, ou luto para aprender a conhecer a Deus. E a manutenção daquela convivência diária com Deus requer esforço, porque o diabo sabe que você receberá o poder de Deus para salvação se aprender a confiar nEle (I S. João 5:4). Portanto, Satanás faz tudo o que está ao seu alcance para distraí-lo e impedi-lo de passar tempo com Deus.

Meu apelo a você, meu amigo, é que se engaje no esforço necessário para conhecer pessoalmente a Deus. Ao familiarizar-se com Ele, você receberá o Seu dom de fé como resultado espontâneo.

Que maravilhoso privilégio familiarizar-nos com o grande Deus do Universo, aprendendo a conhecer um Deus no qual se pode confiar, porque é fidedigno! Convido-o a começar hoje mesmo a conhecê-Lo como seu Amigo pessoal.

 

Querido Pai celestial, obrigado pelas boas novas de que a vida cristã é tão simples. Perdoa-nos por todos os sinuosos métodos, manobras e truques que temos usado na tentativa de obter a fé genuína. Por favor, livra-nos de confiar em alguma outra coisa, exceto a Tua graça e poder, e ensina-nos a conhecer-Te em uma base de um-para-um, de sorte a verdadeira fé de Jesus tome posse da nossa vida. Damos-Te graças por ouvires o nosso rogo, em nome de Jesus. Amém.

 

 

 

Extraído do livro: Como tornar real a cristianismo.